Prevenir é o melhor remédio. Apesar do câncer de mama ser um dos mais recorrentes nas mulheres, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), se diagnosticado em estágios iniciais, as chances de cura são altas, devido aos avanços na medicina oncológica. Por isso, a importância de realizar exames de rotina, como ultrassonografia e mamografia (para mulheres acima dos 40 anos), além de manter hábitos saudáveis e seguir orientações médicas.
A conscientização da prevenção do câncer de mama aumentou nos últimos anos, principalmente após a grande difusão do Outubro Rosa. Os recursos e opções de tratamento também estão mais eficientes, mas enfrentar a doença continua sendo um grande desafio. Uma das questões que preocupa muitas mulheres quando recebem o diagnóstico de câncer de mama é “não vou poder mais engravidar?”.
Segundo a médica Natália Fischer, especialista em reprodução humana, os tratamentos contra o câncer, como a quimioterapia, sim, podem impactar na fertilidade da mulher. Mas há alternativas para preservar a fertilidade dessa paciente e ela conseguir engravidar após vencer o câncer. “O tratamento para o câncer de mama impacta na fertilidade de duas formas. A primeira é o tempo de espera para se engravidar, porque o tempo de tratamento e pós-liberação pode variar, pode ser de dois a três anos ou mais, dependendo da agressividade do tumor”.
A médica explica que em pacientes que têm receptor positivo no câncer para hormônio, ela vai precisar passar de cinco a 10 anos com a utilização de bloqueio hormonal. A depender da agressividade do tumor, esse tempo pode ser ainda maior. Então, esse tempo também precisa ser calculado para que ela engravide e logo em seguida volte ao bloqueio hormonal. Ou seja, o fator tempo pode impactar em termos de oportunidade de gravidez pela idade e qualidade de óvulos, pois a taxa de fertilidade da mulher cai, naturalmente, após os 35 anos.
“Outro fator, que é até mais importante, é a questão da quimioterapia, pois ela é tóxica para o ovário. Porém, há possibilidade de proteger a fertilidade da mulher com o congelamento de óvulos e/ou embriões”, detalha a médica Natália Fischer. Mas toda paciente oncológica pode fazer o congelamento de óvulos? Há contraindicações? De acordo com a médica especialista em reprodução humana, a princípio, todas podem fazer, mas é necessário que o médico fertileuta converse com o oncologista e com o cirurgião para que eles, juntos, possam tomar a melhor conduta no caso específico da paciente.
Outra dúvida recorrente em pacientes com câncer de mama que optam em preservar a fertilidade, através de técnicas de congelamento, é se é melhor congelar apenas os óvulos ou os embriões, principalmente no caso das que possuem parceiros. Falando qual “o melhor”, no congelamento de embriões a paciente terá um resultado, sabendo se haverá embriões saudáveis para uma futura transferência, via fertilização in vitro.
Contudo, congelar só os óvulos também é interessante, pois dará mais uma alternativa para a mulher, principalmente porque pode passar alguns anos para que ela tenha liberação para engravidar. Assim, o embrião poderá ser formado com seu parceiro no momento que desejar engravidar.
“Quanto congelar o óvulo ou embrião, é necessário realmente você ter uma conversa com a paciente individualizada para abordar sobre todos esses aspectos. Também é importante ter um acompanhamento com psicólogo e cuidar da sua saúde mental durante todo o processo para que, assim, ela possa tomar as melhores decisões para ela”, orienta a médica Natália Fischer, especialista em reprodução humana.
Sobre as taxas de gravidez natural após os tratamentos de câncer de mama vai depender muito de vários fatores, como a idade que foi feito o tratamento, a idade da liberação, o tempo de quimioterapia, se houve recidiva ou não, e se ela precisou fazer mais de um tratamento. “Varia muito. Se o ovário voltar a funcionar, se a gente tiver uma boa recuperação ovariana e se for funcionalidade, a gente tem uma boa taxa. Mas se a paciente tiver uma idade mais avançada e o ovário tiver sido mais atingido com a quimioterapia, menor a taxa a gente vai ter de sucesso. Por isso, a recomendação é fazer o congelamento de óvulos (ou de embriões) antes do início dos tratamentos contra o câncer”, reforça a médica Natália Fischer.
Já a mastectomia só vai impactar no pós-cirúrgico, na questão da cirurgia em si. Se a mastectomia for bilateral, a mulher não vai. Caso seja unilateral, ela pode amamentar pela mama que ela ainda tem. “Há o impacto da notícia, em si, do diagnóstico, e você tem os medos relacionados a isso. Então, a gente tem a parte da autoestima pela mutilação mamária e também a parte da fertilidade”. Por isso, a importância de conversar com o oncologista sobre essas questões de fertilidade e oncologista ter a consciência da necessidade de encaminhar para um setor especializado para que essa mulher consiga ultrapassar o restante das etapas com menos sofrimento.
“Hoje, a gente sabe que o câncer de mama tem um alto índice de cura e de sobrevida muito alto. Então, a paciente tem que lidar com o pós. ‘Eu preciso lidar com as sequelas que foi para mim esse câncer’, seja a autoestima, a parte psicológica, a questão de ser mãe ou não é até de um divórcio. Assim, todas essas sequelas precisam ser lidadas e o apoio emocional é imprescindível”.
No que diz a respeito do desejo de ser mãe, felizmente, a preservação da fertilidade é uma grande ferramenta da medicina reprodutiva para manter viva a esperança da maternidade. “O câncer é devastador do ponto de vista psicológico e emocional, mas as pacientes saem do processo de preservação com alívio e força para enfrentar o tratamento”, diz a médica Natália Fischer. “Ela sabe que estamos fazendo o congelamento porque acreditamos que ela vencerá o câncer e que terá uma vida reprodutiva pela frente, e esse é um encorajamento a mais”, conclui.
Planos de saúde cobrem congelamento de óvulos, em paciente com câncer
O custo para congelamento de óvulos, de forma particular, pode não ser viável para a maioria das pacientes oncológicas, já que tem um valor aproximado de 20 a 30 mil reais. A boa notícia é que, desde 2023, após decisão do Tribunal de Justiça (STJ), as operadoras de planos de saúde também devem custear o congelamento de óvulos de mulheres que fazem tratamento para o câncer, já que a infertilidade é considerada um efeito colateral desses tratamentos.
SOBRE DRA. NATÁLIA FISCHER – Com 16 anos de experiência, Dra. Natália Fischer Pimentel é uma especialista em Ginecologia e Obstetrícia, com foco em Reprodução Humana. Sua trajetória profissional inclui atuações em Recife e João Pessoa, além de ser sócia-fundadora da Clínica Embrius (PE) e médica colaboradora na Geare (PB). Sua expertise abrange desde a fertilidade e reprodução assistida até o congelamento de óvulos, infertilidade feminina e masculina, saúde hormonal e planejamento reprodutivo. Possui formação em Medicina pela UFPE, seguida por Residência em Ginecologia e Obstetrícia pelo IMIP, no Recife.
Na área de reprodução humana realizou pós-graduações em Reprodução Humana e Cirurgia Videolaparoscópica, além de uma especialização em Fertilidade pelo Hospital de Valência, na Espanha. Sua expertise se concentra em áreas de grande demanda, como fertilidade e reprodução assistida, congelamento de óvulos, infertilidade feminina e masculina, ciclo menstrual e saúde hormonal, endometriose, fertilização in vitro (FIV) e consultoria sobre maternidade tardia e planejamento reprodutivo. Mais informações no Instagram @dranataliapimentelfischer. Para agendamento de consultas no Recife: (81) 98802.0882.