
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS recebeu, nesta sexta-feira (03), um pedido de quebra de sigilo bancário e fiscal da Cooperativa de Produção e Industrialização da Aquicultura e Agricultura Familiar do Brasil (Cindeas). O objetivo é investigar uma possível ligação entre a Cooperativa e o paraibano Jerônimo Arlindo da Silva Júnior, conhecido como Júnior do Peixe, que tem atuação na Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Rurais (Conafer).
O requerimento foi apresentado pelo senador Eduardo Girão (Novo-CE) e aponta indícios de movimentações financeiras suspeitas. Júnior nega irregularidades em sua atuação. (Leia o posicionamento dele logo abaixo).
De acordo com o documento, as investigações da CPMI identificaram um depósito de R$ 900 mil, em 11 de novembro de 2020, em favor da cooperativa. O repasse ocorreu no período em que o paraibano atuava na Conafer como diretor de Relações Institucionais.
O requerimento de Girão também quer apurar supostas contradições sobre o papel desempenhado pelo paraibano.
Isso porque, durante o depoimento na CPMI, o presidente da Conafer, Carlos Roberto Ferreira Lopes, disse que o paraibano exercia função de diretor de assuntos institucionais.
Ao Jornal da Paraíba, Júnior do Peixe confirmou a mudança de função dentro da entidade e afirmou que atua enquanto “contratado” da Conafer.
Júnior foi citado pela primeira vez na CPMI na última segunda-feira (29), pelo relator da Comissão, o deputado Alfredo Gaspar (União-AL), durante o interrogatório de Carlos Roberto Ferreira Lopes.
O requerimento ressalta que a Conafer estava paralisada na época e que Júnior recebia salário de R$ 40 mil mensais. Questionado em depoimento, o presidente da entidade não soube explicar a razão do repasse de R$ 900 mil à Cindeas, nem o serviço prestado pela cooperativa à Conafer.
O documento afirma que a Cindeas pode ter sido utilizada como instrumento para recebimento de recursos irregulares.
A CPMI quer mapear a origem e o destino das movimentações financeiras para identificar possíveis beneficiários e desarticular um possível esquema “em escala industrial” contra aposentados.
Quem é Júnior do Peixe?
Júnior do Peixe já ocupou cargos ligados à pesca na Paraíba e em Brasília. Ele também atuou como assessor parlamentar. Em agosto, foi nomeado assessor técnico de projetos da Secretaria de Agropecuária e Pesca da Paraíba pelo governador João Azevêdo (PSB). Ele também foi candidato a prefeito de Marizópolis, no sertão paraibano, em 2024.
Júnior do Peixe nega irregularidades
Em posicionamentos publicados nas redes sociais, ele negou envolvimento em irregularidades no INSS. Ele tem dito que não cometeu qualquer ato ilícito e que tem qualificação para receber o salário revelado pela CPMI.
Em resposta à CBN João Pessoa e ao Jornal da Paraíba, ele explicou que entrou na Conafer para ser controlador interno. Afirmou, também, que uma de suas primeiras ações foi a realização de uma revalidação junto aos aposentados.
“A Cindeas foi contratada para fazer um revalida no Nordeste, pois recebíamos muitas denúncias. Nós tivemos a responsabilidade de pegar uma empresa e colocar de porta em porta [e perguntar]: Dona Maria, a senhora assinou isso? Não assinou, então fazia lá a solicitação para sair o desconto. Então foi esse o trabalho que eu fiz, sério, honesto, de porta em porta”, informou.
Júnior disse, também, que o revalida foi feito por regiões e que outras entidades, além da Cindeas, foram contratadas para fazer o serviço. Ele também negou que sua atuação como diretor da Conafer seja fruto de indicação política.
“Não faço parte da Cindeas, que foi paga, averiguada e o serviço foi prestado. Não houve nenhum [tipo] de direcionamento. As pessoas têm que entender que sou apenas um simples funcionário, sou um diretor contratado [da Conafer]”, disse Júnior do Peixe.