Vicente Serejo
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São muitas, Senhor Redator, as novidades do mundo dito moderno que já parece fazer da blasfêmia seu código de conduta. Uma pesquisa da Academia Nacional de Ciências, dos Estados Unidos, revela que nos vinte países de maior renda per capita há um traço comum: o excesso de riqueza é condenado. E mais: os que pensam assim concordam com a cobrança de impostos mais elevados e, creia, com “senso de cuidado com o próximo, justiça, lealdade e por pureza de gesto”.
Fui conferir a relação dos países, mas sem valor de riqueza. Começa com a Rússia, e, quem sabe, para surpresa do ditador Valdimir Putin. E alguns muito ricos como a Suíça, a Bélgica e também os Emirados Árabes Unidos. Estão a França, Arábia Saudita, Estados Unidos e até naqueles menos ricos, como México, Peru e Chile. Quem tem um mínimo de visão crítica sabe que não terá paz um mundo de profundas desigualdades sociais e a economia crivada de grandes inquietações.
O exemplo de que na essência da vida humana a economia vem depois da democracia, está no editorial da Folha de S. Paulo – “Democracia sempre” – lançado na edição de domingo passado: “É com mais democracia que criaremos mais oportunidades para as gerações futuras, e como melhor nos adaptaremos aos desafios globais impostos pela inteligência artificial ou a mudança do clima”. E arremata sua bela lição: “Resolver os problemas da democracia com mais democracia”. Mas, a luta contra a desigualdade, aqui no Brasil, tem hoje inimigos mais poderosos do que nunca, reunidos sob o escudo do Centrão com os seus bilhões e bilhões de custos de manutenção. Claro que o Poder Legislativo é parte essencial na defesa da democracia, mas não precisava ficar tão distante e insensível aos problemas da Nação que representa. Como a ostentação do orçamento secreto e protestos contra o aumento do salário mínimo para R$ 1.518, num bafejo de estupidez.
Tem mais: a Folha também denunciou em editorial o “Pagamento milionário a advogados públicos”. Pelo levantamento financeiro, de 2017 até aqui, já “receberam quase R$ 16 bilhões, com aumentos que, somados, chegam a 195,4%. E avança: “Esses números impressionam ainda mais quando se considera que procuradores e advogados aposentados continuam a receber o bônus sem atuar”. O Supremo limitou o total ao teto R$ 46,23 mil, mas não teve nenhum efeito prático.
Também em editorial, dia 21 de julho, a Folha gritou: “Congresso afronta o país no trato das emendas”. Acusa de ser um mecanismo sem transparência que “abocanha R$ 176 bilhões do Orçamento da União em dez anos e traz à tona o pior da tradição política brasileira, com seu uso paroquial, pulverizado e repleto de suspeitas de corrupção”. A Folha demonstra que o descontrole “afeta uma melhor execução das políticas públicas”. Mas, ainda assim, nossa democracia resiste…
PALCO
RECADO – O empresário João Amoedo, criador do Partido Novo, declarou à Folha de S. Paulo que teme a submissão de alguns governadores a Jair Bolsonaro. Seria recado a Tarcísio de Freitas?
ELOGIO – Correta a decisão da Justiça Federal ao garantir a palavra da comunidade da Redinha no seu modelo de gestão. A obra foi construída toda com recursos públicos e custou R$ 25 milhões.
AGENDA – Sábado, dia dois, das 9h ao meio-dia, Valério Mesquita lança dois livros no calçadão do Sebo Vermelho, na Av. Rio Branco, 705 – ‘O Tempo e sua dimensão’ e ‘Na linha do tempo’.
AVISO – O organizador do livro ‘Abdicar da luta, jamais!”, de Luiz Alves Neto, não é Caio César Muniz como a coluna informou. É Lemuel Rodrigues. É uma edição da Liga Operária de Mossoró.
MÃOS – É uma edição bem cuidada realizada sob a supervisão gráfica de Afrânio Bezerra e marca, com qualidade, a ressurreição da Manimbu como editora. Será lançado inicialmente em Mossoró.
NOTÍCIA – Constância Duarte e Diva Cunha lançam, dia 14 de agosto, no Palácio Potengi, sede da Pinacoteca do Estado, às 17h, a terceira edição da antologia ‘Literatura do Rio Grande do Norte’
POESIA – Do grande ficcionista pernambucano Raimundo Carrero, no novo romance – ‘A vida é Traição’, como um verso que flagra o mais íntimo da alma humana: “Cada pessoa tem a sua farsa”.
PAIXÃO – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, rebate o amadorismo dos que não notam que a paixão é coisa dos deuses: “A paixão reúne, na mesma carne, o castigo e o perdão”.
CAMARIM
REDINHA – Está coluna, há meses, na primeira experiência, denunciou as distorções impostas ao modelo de gestão do mercado da Redinha: tabela com preços iguais, para todos, caixa único e proibição do locatário anunciar seus próprios produtos. O que só deformava a livre concorrência.
ALIÁS – O mercado é um patrimônio do povo da Redinha, afinal é uma comunidade que hoje tem mais de um século. Foi lá que Barôncio Guerra recebeu Mário de Andrade e Câmara Cascudo, em dezembro de 1927. E Mário registra em ‘O Turista Aprendiz’, a apresentação de um coco-de-roda.
EXTINÇÃO – Pesquisa da Faculdade de medicina Veterinária da Universidade de São Paulo aponta: de 1996 e 2925 diminuiu em 94% a população de jumentos no Brasil. Não para consumo da carne. A China quer sua pele para a produção de colágeno. Será declarado patrimônio nacional.
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