Vicente Serejo
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Os leitores desta coluna devem ter notado a paixão do seu redator pelas palavras. Não por dominá-las. Seria pretensão. Por ser o pão da sobrevivência. Não diria o pão ázimo, se não falta o fermento proibido pela tradição judaica. Há, e, muitas vezes, em demasia. É que no jornalismo as palavras precisam ter a propriedade do que se deseja expressar, nunca só um interesse pessoal. A grande serventia do jornalismo é a defesa do bem estar individual e coletivo. O resto é mumunha.

Ninguém pode, em consciência, acusar a Folha de S. Paulo de proteger o Governo Lula. É fechar os olhos para a defesa cerrada da livre iniciativa apontando nos seus editoriais e noticiários os erros nascidos da frouxidão no controle de gastos e na falta de rumo, não só na economia como nas relações políticas. Como não poupa os excessos do Senado e da Câmara, os altos salários do Poder Judiciário e seus penduricalhos, a crise que se aprofunda na saúde, educação e segurança.

Ao classificar, com toda dureza e nitidez, usando as palavras “arreganhos” e “ciclotimias populistas” as decisões do presidente dos Estados Unidos, o conselho editorial da Folha mostra que soube muito bem fazer a distinção entre o direito de crítica – pode vir de dentro e fora do país – mas não as que venham ferir a autonomia de uma Nação e do seu Povo. Não perdeu de vista que Donald Trump preside os EUA, a mais poderosa economia da Terra, mas não governa o mundo.

Foi tão forte a posição editorial da Folha que sugere ao presidente Lula não perder o sangue frio – “é o melhor caminho” – se amanhã sentar à mesa de uma negociação. Mas, defende com clara dureza: “Não deve abrir mão de seus poderes de retaliar, conferidos pelo Congresso Nacional ao Executivo em legislação recente”. O editorial reconhece que a lei da reciprocidade é indicada para os casos extremos na medida em que a negociação política, via bom senso, vier a fracassar.

Foi tão atabalhoada a decisão de Trump que não cuidou de pesar e medir as consequências. A maior delas, escreveu Dora Kramer no seu artigo sempre na terceira página da Folha, foi sequer notar a armadilha que estava montando com as próprias mãos, na medida em que feria a economia de S. Paulo. Sim, o maior poder industrial sul-americano e um dos maiores do mundo, além de ser o maior reduto político do bolsonarismo no país, afinal é inegável ser sua grande fortaleza eleitoral.

Chantagem e revanchismo são péssimas companhias para quem governa. Se prevalecem, a serenidade se ausenta e, ausente, é uma grave ameaça à democracia. O editorial da Folha tem um padrão técnico equilibrado: abre a porta à negociação e fecha ao intervencionismo autoritário. Sua síntese central se inclui na própria tese que defende: é preciso ganhar tempo até que passem – se passarem – os “arreganhos” e as “ciclotimias do populismo”. Do contrário, é resistir sem rendição.

PALCO

VALOR – O ‘Opúsculo Humanitário’, de Nísia Floresta, no rol de leituras da Fuvest, a Fundação da Universidade de S. Paulo de maior credibilidade em exames vestibulares. Dona Nísia resiste.

RECORDE – ‘A Arte da Guerra’, de Sun Tzu, escrito no Século IV, antes de Cristo, está liderando o ranking de não ficção da revista Veja. Avisa que o fantasma da guerra voltou no terceiro milênio.

LUTA – O cabaré Thatys Drinks, de Fortaleza, elevou de 50% para 100% a taxa para seus clientes norte-americanos. É a carne no grande prazer de resistir ao abuso do mando dos toscos poderosos.

MELHOR – Ana Maria Gonçalves, a eleita para a Academia Brasileira Letras, teve seu livro “Um Defeito de Cor” votado pelo comitê da Folha como o melhor livro neste quarto do século de 2025.

AVISO – Hoje, dia 15 de julho, é o Dia Internacional do Homem, revogado pelas feministas. Ainda bem. Imaginem se acaso festejassem. E fizessem aqueles discursos insuportavelmente machistas?

ALIÁS – Este é o título do artigo da filósofa negra Djamila Ribeiro que pode ser útil às feministas desta aldeia, intolerantes neste vivido quarto de século 21: “Feminismo não é clube da Luluzinha”.

POESIA – Do argentino Pedro Mairal, na crônica ‘O amor invisível’, no seu novo livro ‘Fogo nos Olhos’, lançado no Brasil, edição Todavia: “As palavras são olhos que veem, tocam e capturam”.

DESEJO – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, com olhos de luxúria na tarde fria: “O tomara-que-caia pode ser uma promessa daquela que veste, mas é um desejo de quem olha”.

CAMARIM

PERDA – Marcos Amaro, filho do fundador da TAM, transferiu para São Paulo aviões usados na II Guerra Mundial, como Fau Corsair, Messeerschmitt e Spitfire. Perdemos. E, no entanto, temos o Museu da Rampa, o mais histórico e importante do Brasil. A nossa pobreza política nos derrota.

PODE? – Pela tabela atual da Receita Federal, quem tiver rendimento mensal acima de R$ 4.664,68 paga na fonte 27,5% de imposto de renda. Na proposta do deputado Arthur Lira, relator na Câmara Federal, a alíquota será de 10% para rendas altas. Ou seja: salários mensais a partir de R$ 50 mil.

RETRATO – Pesquisa da Pew Research divulgada pela Folha revela: “Apoio de Trump se tornou ônus político para aliados estrangeiros”. Entre eles, depois do Canadá, Reino Unido, Grécia, Itália França, Espanha e Alemanha, está o Brasil em 22º lugar. Segundo a população dos países ouvidos.

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