O documentário Apocalipse nos trópicos, de Petra Costa – a mesma diretora de Democracia em vertigem –, terá lançamento mundial no dia 14 de julho, na Netflix. Na piauí deste mês, o diretor, montador e crítico de cinema Eduardo Escorel analisa o filme, que trata de uma questão atual e indispensável: a influência do fundamentalismo evangélico no proces­so político brasileiro, e a ameaça daí decorrente ao regime democrático.

Na avaliação de Escorel, o novo documentário é tão ou mais audacioso que o filme anterior de Petra Costa, que trata dos acontecimentos que levaram ao impeachment de Dilma Rousseff e a ascensão de Bolsonaro.

A origem do interesse da diretora pelo tema da religião é revelada ao espectador logo no início do filme, quando a narradora (a própria diretora) diz: “Eu sabia pouco sobre a fé evan­gélica. Eu só sabia que, em qualquer ci­dade do Brasil onde não tem hospitais nem ruas pavimentadas, tem sempre uma igreja evangélica oferecendo servi­ços sociais, um senso de comunidade e um sentido para a vida. A minha formação laica não estava me ajudando a decifrar os sinais em meu entorno. Eu sabia o que era a Revolução Russa e a fórmula do oxi­gênio, mas nada sobre Paulo, João de Patmos ou os Quatro Cavaleiros do Apo­calipse. Era como se compartilhássemos a mesma Terra, mas falássemos línguas completamente diferentes. Então, eu fi­nalmente começo a estudar a Bíblia.”

Para Escorel, um dos grandes méritos de Apocalip­se nos trópicos é, justamente, ser a crônica audiovisu­al do aprendizado pessoal de Costa, instigada pela vontade de conhecer algo que ignorava. “Virtude considerável, por tornar o documentário uma longa jor­nada em busca de conhecimento”, ele escreve.

O documentário é subdividido em cinco capítulos e um epílogo, arranjo que serve de baliza para orientar o espectador, con­duzido pela narração ao sabor de uma livre associação de ideias. Jair Bolsonaro é um personagem destacado no filme, mas o protagonista de Apocalipse nos tró­picos, na avaliação de Escorel, é o pastor evangélico neo­pentecostal Silas Malafaia, presidente da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (Advec). Apesar de só ser apresentado no Capítulo I (O influenciador), ele tem pre­sença destacada do prólogo ao epílogo.

No Epílogo (Revelação), no dia seguinte à eleição de Lula, manifestações em vinte estados pedem intervenção militar e resistência civil. “Bolsonaristas acampam em frente aos quartéis e são acolhidos pelos militares. Protegidos por generais e financiados por empresários, eles imploram por um golpe”, diz Costa. A multidão de camiseta amarela grita: “Forças Armadas! SOS!”

Escorel escreve: “E eis Malafaia de novo, olhando direto para a câmera. Desta vez, primeiro na posição de quem ensina, depois apelando para a coragem e a virilidade do presidente derrotado. Implícito está o apelo por um golpe: ‘Senhor presidente Jair Messias Bolsonaro, o senhor é o presidente legal em exercício. O senhor tem poder de convocar as Forças Armadas para botar ordem! Presidente Bolsonaro, como é que o senhor vai passar para a história? Omisso, covarde ou alguém que usa o seu poder legal, garantido pela Constitucional?’ O lapso no final da última palavra é curioso.”

Assinantes da revista podem ler a íntegra da crítica neste link.





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