O Brasil pode estar prestes a dar um passo estratégico nas relações comerciais com os Estados Unidos. Em entrevista concedida nesta segunda-feira (4), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, revelou que minerais críticos e terras raras podem ser incluídos nas negociações tarifárias com os EUA.
“Temos minerais críticos e terras raras. Os Estados Unidos não são ricos nesses minerais. Podemos fazer acordos de cooperação para produzir baterias mais eficientes”, declarou Haddad à BandNews.
Esses recursos são fundamentais para o futuro da tecnologia, pois estão presentes na produção de baterias para veículos elétricos, turbinas eólicas, equipamentos de energia limpa, celulares, processadores de inteligência artificial e datacenters. Não à toa, o governo brasileiro também discute, desde maio, um novo marco regulatório para IA e infraestrutura de dados.
Além disso, diante das novas tarifas impostas pelo governo norte-americano, o Brasil prepara um plano de contingência para apoiar os setores mais afetados — com ações como linhas de crédito especiais e incentivos para compras governamentais.
Nordeste na geopolítica das terras raras
Embora grande parte da atenção sobre minerais estratégicos recaia sobre estados como Minas Gerais e Goiás, é no Nordeste brasileiro que surgem algumas das áreas mais promissoras em exploração de terras raras no país.
Diversas regiões já foram catalogadas por estudos geológicos da CPRM (Serviço Geológico do Brasil) e estão sendo alvo de prospecção de investidores nacionais e internacionais.
Além de reservas promissoras, o Nordeste conta com infraestrutura portuária, mão de obra técnica e localização geoestratégica, fatores que aumentam o potencial da região em um cenário global de demanda crescente por minerais críticos.
Regiões do Nordeste com potencial para terras raras e minerais críticos
Confira as áreas já mapeadas para exploração de terras raras e minerais estratégicos no Nordeste:
Estado | Localidade / Região | Minerais Catalogados | Observações |
---|---|---|---|
Bahia | Igaporã, Campo Alegre de Lourdes | Terras raras leves e pesadas | Região com foco em neodímio e praseodímio, usados em ímãs de alto desempenho |
Rio Grande do Norte | Seridó | Nióbio, tântalo e terras raras | Área rica em pegmatitos, com forte presença de minerais críticos |
Ceará | Itatira, Santa Quitéria | Fosfato, urânio e terras raras | Santa Quitéria abriga maior jazida de urânio do Brasil; terras raras associadas |
Piauí | Paulistana e São Raimundo Nonato | Fosfato e elementos de terras raras | Exploração crescente em áreas de cerrado e caatinga |
Pernambuco | Sertão do Araripe e Agreste | Nióbio, lítio e terras raras | Estudos geológicos em fase de mapeamento ampliado |
Maranhão | Região Centro-Sul | Terras raras e minerais radioativos | Potencial ainda em avaliação, mas já presente no radar de investidores |
Paraíba | Seridó e Borborema | Pegmatitos ricos em minerais industriais como nióbio, quartzo, feldspato, caulim, mica, e minerais metálicos como tantalita-columbita (tântalo e nióbio), cassiterita (estanho), além de gemas como água marinha e turmalina, além de ilmenita, rutilo e zirconita | O estado possui um potencial considerável para a exploração de diversos minerais, com destaque para a região do Seridó e suas jazidas de pegmatitos e nióbio. |
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O que são terras raras e por que importam?
Apesar do nome, terras raras não são exatamente raras, mas estão dispersas na natureza e em concentrações que dificultam a extração em larga escala. Elas formam um grupo de 17 elementos químicos usados em aplicações de alto valor tecnológico, como:
- Ímãs para motores elétricos e turbinas
- Telas de celulares e tablets
- Equipamentos médicos
- Lentes e sensores
- Componentes de defesa e telecomunicações
Com o avanço da transição energética e digital, esses elementos tornam-se cada vez mais estratégicos — e o Brasil, especialmente o Nordeste, surge como fornecedor em potencial para mercados como Estados Unidos, Europa e Ásia.
Perspectivas para o Nordeste
Com os holofotes voltados para a necessidade global de minerais críticos, o Nordeste tem a chance de liderar uma nova frente de desenvolvimento econômico sustentável.
Se os acordos com os EUA forem adiante, estados da região poderão se beneficiar com investimentos em pesquisa mineral, cadeias de produção, infraestrutura de exportação e empregos qualificados.
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