Vicente Serejo
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As reações provocadas pela comunicação, principalmente se ferem convenções, pactos ou acordos tacitamente aceitos pela sociedade, não são diferentes do que ocorre na vida cotidiana. Daí os efeitos que no mais das vezes causam repúdio. É o que acontece com algumas das iniciativas do ministro Alexandre de Moraes. Não se pode pôr em dúvida sua autoridade como relator, mas, com certeza, ele também não pode esperar ferir certas convenções sem causar fortes efeitos coletivos.
Essa quebra da verdade tacitamente convencionada, e foi registrada aqui não faz tanto tempo assim, atingiu seu ponto máximo quando, no primeiro instante, quando foi proibida a comunicação do ex-presidente Jair Bolsonaro com seu filho, o deputado federal atualmente nos Estados Unidos. A medida – logo foi rogada – quebrou um forte pacto humano e social, de pais falarem com filhos sob quaisquer circunstâncias. A sociedade deplora no seu sentido mais plural e acima de ideologias.
Agora, nos dias bem recentes, mais uma vez o legalismo golpeou a boa lógica como se fosse possível superá-la. A Polícia Federal, de olhos e ouvidos fechados para a sociedade, pediu que a Justiça determinasse a vigilância do ex-presidente com agentes policiais dentro de sua casa, ferindo o velho e consagrado recato do lar. Como se não bastasse, de alguém preso sem ser julgado e sem prova de que pretende evadir-se, quando ele tem em seu favor a intocável presunção de inocência.
Desta vez, e como se percebesse a espetacularização, o ministro Alexandre de Moraes teve o cuidado de antes ouvir a posição da Procuradoria Geral da República. O procurador, na pessoa do Paulo Gonet que desconheceu o tal perigo iminente que o deputado Lindbergh Faria no seu petismo histriônico tanto exige. No pedido, pelo jeito, faltou serenidade e sobrou um revanchismo sem respaldo na opinião pública que por algumas vozes chegou a ser recebido como bruta humilhação.
O fato, em si, é jurídico e não se nega, mas se opera diante de um cenário que é político e, portanto, banhado pelas mais fortes emoções coletivas. Esse foi o mesmo erro, quando da prisão de Lula. Soube ser líder. Não se entregou. Dormiu na sede do sindicato, seu berço político, fez um pronunciamento corajoso para toda a nação e foi levado preso. Ao sair, depois do martírio, voltou com a mesma força popular de antes para hoje ocupa pela terceira vez a presidência da República.
A comunicação não tem aparato técnico para resolver problemas jurídicos, mas é bom deixar claro: a Justiça não é bem aparelhada para questões de comunicação. São imbricamentos complexos diferentes e não há um controle sobre as reações humanas. As correntes geradas pelas opiniões publicadas, se não forjam direitos, mobilizam as reações humanas e por isso se consagram no tribunal da chamada opinião pública. Principalmente numa sociedade fortemente polarizada.Como a nossa.
PALCO
REAÇÃO – Os nomes relevantes que repudiaram o espírito de tirania implantado na Academia de Letras de Macaíba decidiram criar o Instituto Histórico da cidade. Não faltará História. Ainda bem.
MUDA – A presidência da Fundação José Augusto deve mudar com a chegada do vice Walter Alves ao governo, em abril. Quando da desincompatibilização da governadora Fátima Bezerra. Anotem.
ALIÁS – Mesmo que as mudanças venham para preservar o núcleo da equipe atual, o governo será outro, asseguram os próceres que sobem e descem a rampa da governadoria. Todo poder tem dono.
TÓXICO – Deve ser contaminação de autoritarismo o estilo ameaçador do secretário de saúde de Natal contra o direito de greve dos médicos. Ou, ainda, e tanto mais lamentável: é por intolerância.
DIÁRIO – Vai ser dia 10 próximo, a partir das 18h30, no Sesc da Rio Branco, o lançamento do livro ‘Diário Poético do RN’. Fotos de Leila Cunha Lima legendadas por Diógenes da Cunha Lima.
FEIRA – Será durante a feira de livros novos e usados, no Campus da UFRN, o lançamento do livro ‘Cantoria’, de Giovani Rodrigues, de oito a 12 próximos. Autógrafos no stand da editora Sol Negro.
POESIA – Da poetisa Mar Becker, gaúcha de Passo Fundo, verso do poema sem título, do seu livro a ‘Noite Devorada’, como numa fuga: “Amei dolorosamente, como se ama o mar quando quebra”.
LUTA – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, provocado sobre as desigualdades que cada dia piores: “O país está dividido entre os muito saciados e os que ainda lutam contra a fome”.
CAMARIM
ROMBO – A Fundação Capitania das Artes tem hoje, como herança, um rombo de R$ 37 milhões, o que é orçamentariamente impagável. A menos que o prefeito Paulinho Freire faça uma redução drástica da despesa com a contratação de artistas com seus cachês milionários. O que é mais difícil.
CINEMA – Está pronto e já com as primeiras alocações financeiras através de emendas, o projeto de restauração do casarão de Luiz de Barros, na Rua Chile, Ribeira, para ser um cinema de rua e espaço para atividades culturais. É um plano que a Prefeitura de Natal quer realizar até ano que vem.
BRILHO – O restaurante Zéh quebra para melhor e como prova de qualidade, nossa pobre tradição de ausência da lista dos cem restaurantes da revista Exame. É o 98º no ranking nacional. Mostra que é possível romper a bolha da província no mercado exigente e no qual não fácil conquistar espaço.
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