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Após oito semanas de julgamento e 34 testemunhas, o caso criminal de Sean “Diddy” Combs chegou ao fim.
O júri responsável pelo caso de, que vem sendo acompanhado com grande atenção nos Estados Unidos, concluiu nesta terça-feira (2/7) parte do veredito: o rapper foi considerado culpado por duas acusações relacionadas ao transporte de mulheres para fins de prostituição – uma delas envolvendo sua ex-parceira, Cassie Ventura, e outra referente a uma mulher identificada apenas como “Jane”.
O rapper foi absolvido, contudo, das acusações mais graves, incluindo tráfico sexual e conspiração para extorsão (racketeering), esta última frequentemente associada a organizações criminosas como máfias.
O juiz Arun Subramanian negou o pedido de fiança do rapper, segundo a CBS News, parceira da BBC nos EUA. Isso significa que ele permanecerá preso enquanto aguarda a sentença por suas duas condenações.
Segundo a promotoria, o artista teria coordenado uma rede de abusos com a ajuda de seus funcionários, criando um verdadeiro esquema de exploração sexual.
Formado por 12 pessoas — oito homens e quatro mulheres —, o júri, no entanto, não viu provas suficientes para sustentar essa versão.
A decisão, que levou cerca de 13 horas de deliberação ao longo de três dias, causou reações intensas. Enquanto Diddy permaneceu sério ao ouvir o resultado, apoiadores celebraram do lado de fora do tribunal.
A defesa agora pede a liberdade provisória do rapper, que está detido desde setembro do ano passado. Seus advogados propuseram o pagamento de uma fiança no valor de US$ 1 milhão.
A pena máxima que Combs pode enfrentar agora é de 20 anos de prisão, bem menos do que a prisão perpétua que lhe poderia ser imposta caso fosse condenado pelos delitos mais graves. A previsão é de que seja sentenciado em 3 de outubro.
Apesar das condenações, a leitura do veredito é vista por analistas como uma vitória parcial para Diddy.
Os depoimentos mais fortes do caso vieram de Cassie Ventura, que relatou ter sido forçada a participar de orgias envolvendo drogas e garotos de programa.
O julgamento, que corre em Nova York desde maio, continua sendo acompanhado de perto, tanto por veículos de imprensa quanto por fãs e críticos do artista.
Entenda o veredito
Diddy foi julgado por cinco acusações: duas delas por tráfico sexual e outras duas por transporte com fins de prostituição, relacionadas aos casos envolvendo Cassie Ventura e ‘Jane’, e uma acusação de conspiração para extorsão.
Ele foi considerado culpado por duas das cinco acusações, apenas as de transporte para fins de prostituição.
Para condenar Diddy por conspiração para extorsão, o delito mais grave da lista, os promotores teriam que provar que ele usou sua rede contatos para formar uma organização criminosa e por meio dela cometer crimes como tráfico sexual, sequestro, tráfico de drogas e obstrução da justiça.
Segundo a promotoria, a rede incluiria os funcionários de Diddy, que também teriam participado da organização das festas privadas do rapper, apelidadas de “freak-offs“, que estiveram no centro do julgamento e renderam uma séria de polêmicas nos últimos meses.
Em uma batida policial da mansão de Diddy em Los Angeles, por exemplo, foram encontrados de mil frascos de óleo de bebê, material que seria usado nessas festas.
Parte dos encontros sexuais em que as testemunhas da acusação disseram ter sido coagidas a fazer sexo com garotos de programa enquanto o rapper assistia teria acontecido nesses eventos.
Os advogados do cantor tentaram minar a alegação perguntando às testemunhas se funcionários de Diddy já haviam presenciado o que acontecia nas festas.
Cassie Ventura disse que não acreditava que eles estivessem presentes.
Nesse sentido, os representantes legais do rapper argumentaram que, sem a conivência deliberada da equipe, o caso não poderia ser considerado extorsão.
Robert Mintz, advogado criminal e ex-promotor federal, disse à BBC que era esperado que a acusação de extorsão fosse a mais difícil de ser provada perante o júri.
Os promotores precisavam provar que Diddy estabeleceu um plano coordenado com pelo menos mais uma outra pessoa para cometer pelo menos dois crimes ao longo de vários anos, afirma Mintz.
“É uma acusação muito complexa, usada tipicamente no passado em processos contra o crime organizado”, completou.
Os depoimentos de Cassie e ‘Jane’
Uma testemunha-chave para a promotoria foi Cassandra Ventura, cantora e modelo conhecida como Cassie. Ela testemunhou por dias sobre seus 11 anos de relacionamento abusivo com Diddy.
Grávida de oito meses e muitas vezes falando em meio a lágrimas, Cassie relatou que Diddy a espancava e a coagia a participar de encontros sexuais em que ela era obrigada a fazer sexo com garotos de programa enquanto ele a filmava.
Diddy já havia admitido ter cometido violência doméstica. Uma das evidências mais fortes exibidas durante o julgamento inclui uma gravação de vídeo de Diddy batendo em Cassie no corredor de um hotel durante um desses encontros sexuais, e o depoimento do segurança do hotel, que disse que o rapper ofereceu a ele dinheiro para se livrar das fitas de gravação.
Os promotores também exibiram fotos de vários machucados da cantora, supostamente causados pelos abusos.
Cassie não foi a única ex-namorada de Diddy a depor. Os advogados também convocaram “Jane”, que falou sob pseudônimo, e compartilhou histórias semelhantes sobre como ela também foi pressionada a participar desses encontros sexuais, que ela chamava de “noites de hotel”.
Mensagens carinhosas que Cassie e “Jane” enviaram para Diddy, incluindo algumas em que elas demonstravam interesse em participar de atos sexuais, também foram exibidas para os jurados.
“O público está ficando cada vez mais consciente sobre a violência doméstica e sobre o fato de que mulheres podem se sentir obrigadas a permanecer em relacionamentos abusivos”, disse Jennifer Biedel, ex-procuradora do Distrito Sul de Nova York, antes do julgamento desta terça.
Mas, segundo Biedel, a mistura de mensagens de amor e alegações de coerção poderia, em alguns casos, ser difícil para o júri compreender.
O caso de Diddy “pode não ser tão claro quanto o júri gostaria que fosse”, afirmou.
Para complicar ainda mais, os promotores perderam uma suposta terceira vítima, que eles esperavam que testemunhasse.
Neama Rahmani, ex-procurador federal, afirmou que perder uma suposta vítima poderia prejudicar o caso, pois a acusação tradicionalmente se beneficia de múltiplos depoimentos.
“Os jurados podem não acreditar em uma vítima, mas é muito difícil não acreditar em várias”, ele explicou.