Com a oficialização da nova ordem executiva do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta quarta-feira (30), o etanol brasileiro entra na zona de risco. Embora setores como petróleo e derivados tenham sido poupados da tarifa de 50%, produtos como o etanol e o açúcar ficaram fora da lista de isenções e, por isso, devem ser atingidos pelas novas regras — o que pode gerar impacto direto na economia do Nordeste, região estratégica para a cadeia do biocombustível.

A princípio, a medida também reacende tensões comerciais entre Brasil e EUA. Assim, desde o dia 15 de julho, está em andamento uma investigação norte-americana sobre barreiras comerciais impostas pelo Brasil, com destaque para o acesso ao mercado brasileiro de etanol americano. Segundo o USTR (Escritório do Representante Comercial dos EUA), o Brasil teria deixado de conceder reciprocidade tarifária.

Etanol e açúcar: o que está em jogo para o Nordeste?

Embora a produção nacional de etanol esteja concentrada no Centro-Sul, o Nordeste tem papel crucial no abastecimento interno durante a entressafra, principalmente com a produção de cana-de-açúcar em estados como Alagoas, Pernambuco e Ceará. Ao mesmo tempo, é também uma região que mais depende da importação de etanol dos EUA, especialmente nos períodos em que a oferta local é insuficiente.

De acordo com dados da consultoria Datagro, entre fevereiro de 2023 e junho de 2025, o Brasil importou 204 milhões de litros de etanol norte-americano, sendo grande parte direcionada ao Nordeste.

Além disso, para proteger o mercado interno, o Brasil aplica atualmente uma tarifa de 18% sobre o etanol importado fora do Mercosul — uma medida pensada justamente para preservar a competitividade da produção nordestina, historicamente menos favorecida em escala e logística.

Panorama da produção de etanol no Nordeste

Estado Participação na produção nacional de etanol Nível de dependência de importações dos EUA
Alagoas Cerca de 2% Alta
Pernambuco Cerca de 2,3% Alta a moderada
Ceará Produção em expansão Moderada

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Soluções em construção: Brasil e EUA retomam diálogo e plano nacional mira apoio aos produtores

Apesar do impacto inicial das tarifas, negociações estão sendo retomadas. O Ministério da Fazenda confirmou que o governo norte-americano solicitou uma nova reunião para discutir os termos da tarifa e avaliar exceções — incluindo uma possível compensação cruzada com o açúcar brasileiro, ainda sob cotas restritivas nos EUA.

Paralelamente, o Governo Federal prepara um pacote emergencial para os setores mais afetados, com previsão de linhas de crédito, medidas de compensação e estímulo à diversificação de mercados. Entretanto, a ideia é proteger principalmente as pequenas e médias empresas ligadas ao etanol e açúcar, com forte presença no Nordeste.

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Diversificação de mercados e energia limpa são caminhos para o futuro

Além das tratativas bilaterais, estados nordestinos, por meio do Consórcio Nordeste, já atuam para abrir novos mercados de exportação e reduzir a dependência dos EUA. Iniciativas como acordos com países europeus e asiáticos, e a integração com a política nacional de biocombustíveis (RenovaBio), fazem parte dessa estratégia.

A aposta em hidrogênio verde, como no Rio Grande do Norte, e bioenergia, também se mostra promissora para modernizar a matriz energética e agregar valor à produção agrícola regional — reforçando a sustentabilidade e a competitividade da região no mercado global.

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Mesmo diante do impacto das tarifas norte-americanas sobre o etanol brasileiro, o Nordeste tem potencial para virar o jogo. Ações articuladas entre governo federal, consórcios regionais e setor privado podem transformar o desafio em oportunidade — com mais investimentos em inovação, expansão de mercados e fortalecimento da cadeia produtiva local.

Portanto, o diálogo com os EUA está reaberto, o plano de contingência está em construção, e o Nordeste já se movimenta para proteger empregos e garantir sua participação estratégica na transição energética do Brasil.



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