Crédito, Reuters
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- Author, Daniel Gallas
- Role, Da BBC News Brasil em Londres
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Autoridades das Nações Unidas (ONU) dizem que ao menos 800 pessoas morreram no Afeganistão após um terremoto de magnitude 6,0 atingir o leste do país no domingo (31/8).
O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Enucah) afirma que as mortes aconteceram em pelo menos quatro províncias do Afeganistão.
A agência da ONU estima que pelo menos 2 mil pessoas ficaram feridas — muitas delas em áreas remotas e montanhosas, com difícil acesso para equipes de resgate.
Acredita-se que pelo menos 12 mil pessoas tenham sido diretamente afetadas pelo terremoto, que danificou fortemente prédios e a infraestrutura local.
O terremoto aconteceu a uma profundidade de 8 km e sacudiu prédios da capital Cabul até Islamabad, capital do Paquistão.
Boa parte das áreas atingidas são remotas, o que dificulta na coleta de dados mais precisos.
Moradores das regiões afetadas relataram à BBC que deslizamentos de terra isolaram áreas perto do epicentro do terremoto, o que significa que levará muito tempo para se avaliar completamente os danos.
Além disso, a conexão com a internet já era limitada nesses lugares, o que piorou com o terremoto. Isso dificulta a comunicação e a coordenação do resgate.
O governo atual é reconhecido apenas pela Rússia.
O Programa Mundial de Alimentos fala também em uma crise de fome sem precedentes no Afeganistão.
Após o terremoto, vários governos, como da China, Índia, Suíça e do Reino Unido, prometeram enviar ajuda.
O terremoto atingiu a região montanhosa do leste do Afeganistão às 23h47 no horário local de domingo (16h17 no horário de Brasília).
O tremor ocorreu em profundidade considerada rasa, o que o torna ainda mais destrutivo.
Seu epicentro foi a 27 km de Jalalabad, a quinta maior cidade do país, na província de Nangarhar, no leste do Afeganistão.
A maior parte das mortes aconteceu na província de Kunar. A província de Laghman também foi atingida, e o terremoto foi sentido a 140 km de distância, em Cabul.
Os esforços de resgate são dificultados pelo fato de as estradas nas regiões montanhosas serem muito estreitas.
Algumas delas ficaram bloqueadas por deslizamentos de terra.
Um médico trabalhando em Asadabad, a capital da província de Kunar, disse à BBC que seu hospital está lotado.
O governo do Talebã afirma ter enviado helicópteros para chegar a vilarejos atingidos e para transportar os feridos ao Aeroporto de Nangarhar.
Do aeroporto, os feridos são então transferidos de ambulância para hospitais regionais para tratamento.
O governo afirma que todas as autoridades civis e militares estão envolvidas na resposta ao desastre.
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As autoridades estão pedindo ajuda de organizações internacionais.
A agência humanitária da ONU para crianças (Unicef) disse ter equipes trabalhando com as autoridades locais.
Um comitê especial foi formado pelo gabinete do primeiro-ministro do Afeganistão para ajudar as vítimas do terremoto, segundo afirmou o porta-voz principal do Talebã, Zabihullah Mujahid, em um comunicado.
O comunicado acrescenta que um fundo foi alocado para as vítimas e que mais dinheiro será disponibilizado.
Mujahid afirma que medidas foram tomadas para evacuar as vítimas e entregar alimentos e outros suprimentos essenciais aos afetados.
Por que há tantos terremotos devastadores no Afeganistão?
O Afeganistão é muito propenso a terremotos porque está localizado sobre uma série de falhas geológicas onde as placas tectônicas indiana e eurasiana se encontram.
Em outubro de 2023, um terremoto de magnitude 6,3 atingiu a província ocidental de Herat, matando cerca de 1,5 mil pessoas, segundo a ONU. O tremor foi muito destrutivo porque foi superficial — ocorrendo a apenas 14 km abaixo da superfície da Terra.
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Terremotos perdem energia à medida que se propagam.
Então, quanto mais profundo for o tremor, mais longe as ondas terão que viajar — o que as torna mais fracas quando atingem a superfície.
Em 2022, a província de Paktika foi atingida por um terremoto que também matou mais de mil pessoas.
Os moradores do Afeganistão também são particularmente vulneráveis a terremotos porque muitos edifícios e casas são construídos com madeira, tijolos de barro ou concreto frágil.
Grande parte dos danos causados por terremotos nas montanhas do Afeganistão também advém dos deslizamentos de terra que eles causam, que podem destruir imóveis e bloquear rios.
Os deslizamentos de terra também impactam estradas, dificultando o acesso de equipes de resgate e equipamentos a locais remotos.
A região atingida pelo terremoto de domingo à noite já estava sofrendo com enchentes no fim de semana.
As cheias atingiram as províncias de Nangarhar e Kunar entre sexta-feira e sábado, matando pelo menos cinco pessoas, segundo a imprensa local.
Pelo menos 400 famílias foram afetadas, informou a Organização Internacional para as Migrações no domingo.
A enchente também interrompeu temporariamente o trânsito entre o Paquistão e o Afeganistão.
* Com informações de Jenna Moon, Flora Drury e Sean Seddon em Londres; e Yogita Limaye, Yama Bariz e Hafizullah Maroof no Afeganistão.