Enquanto o agregado de investimentos estaduais no Brasil registrou uma queda real de 4,4% no primeiro semestre de 2025, reflexo de uma desaceleração nas receitas, um grupo de estados nordestinos nadou contra a corrente e apresentou crescimentos expressivos. Dados compilados do Valor Econômico com base nos relatórios da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) mostram que Maranhão, Paraíba, Piauí e Sergipe estiveram entre os nove estados brasileiros que registraram alta superior a 30% nos investimentos, destacando-se no cenário nacional.
A princípio, este desempenho positivo ocorre em um contexto de desafios. As receitas correntes dos estados desaceleraram, subindo apenas 2,2% no semestre, ante 5,8% em 2024. Com as despesas correntes subindo 3,2%, muitos governos precisaram revisar seus planejamentos, contendo gastos de custeio para priorizar projetos de investimento onde havia espaço fiscal.
Os destaques do Nordeste em investimentos
A tabela abaixo resume o desempenho dos estados nordestinos que mais se destacaram no primeiro semestre de 2025:
Estado | Crescimento do Investimento (1º Semestre 2025 vs 2024) | Posição no Ranking Nacional |
---|---|---|
Sergipe | +53,3% | 5º |
Maranhão | +42,1% | 8º |
Paraíba | +37,2% | 9º |
Piauí | +73,7% | 4º |
Ceará e Pernambuco | 11,1% e 7%, respectivamente | 12º e 13º |
O que explica o crescimento do Nordeste?
Ao mesmo tempo, cada estado tem sua própria estratégia, mas alguns fatores em comum impulsionam esses números:
- Sergipe: Um “Canteiro de Obras” Estratégico: Com um crescimento de 53,3%, Sergipe é o caso mais emblemático. A secretária de Fazenda, Sarah Andreozzi, atribui o resultado a uma estratégia de Estado para atrair empresas e gerar emprego e renda, especialmente em um novo cenário pós-reforma tributária, onde os incentivos fiscais tradicionais perdem espaço. “Há uma transformação em Sergipe. O Estado virou um canteiro de obras”, afirmou. A receita tributária do estado cresceu 7,4% no período, bem acima da média nacional, impulsionada por medidas fiscalizatórias e pelo aquecimento do consumo local.
- Foco em Obras e Concessões: Estados como o Maranhão e a Paraíba têm seguido um modelo de parcerias e concessões para impulsionar a infraestrutura sem sobrecarregar imediatamente o caixa estadual. O foco em obras de pavimentação, habitação e logística é crucial para o desenvolvimento e gera um efeito multiplicador na economia.
- Gestão Fiscal Cautelosa: A contenção de despesas de custeio, citada por economistas como uma tendência nacional, parece ter sido aplicada de forma eficaz por esses estados. Isso cria uma “poupança” que pode ser direcionada para investimentos, mesmo em um cenário de receita menos favorável.
O cenário nacional e a expectativa para o futuro
Apesar do bom desempenho nordestino, o panorama geral é de cautela. Estados grandes como São Paulo (-62,7%) e Rondônia (-50,9%) tiveram quedas bruscas, puxando a média nacional para baixo. O Rio Grande do Sul foi a exceção que confirmou a regra, liderando o ranking com alta de 139% devido aos investimentos urgentes na reconstrução pós-enchentes.
Assim, a expectativa de secretários e especialistas é de que os investimentos acelerem no segundo semestre de 2025 e ao longo de 2026, impulsionados pela maturação de projetos e pela proximidade das eleições estaduais. No entanto, essa trajetória dependerá essencialmente da evolução da arrecadação do ICMS, o principal tributo estadual, que já começa a dar sinais de perda de fôlego em alguns entes.
Enquanto isso, o Nordeste mostra que, com gestão fiscal estratégica e foco em atrair investimentos, é possível crescer mesmo quando o vento nacional não está totalmente a favor.