Vicente Serejo
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Confesso, de uma só vez, a desmemória e a desinformação. Não lembro mais se ouvi de algum intelectual, eu que entrevistei tantos deles ao longo deste mais de meio século, ou se caiu nos ouvidos de um algum desaforo que ouvi ou guardei. Nunca usei a palavra ‘sátrapa’ nestas já algumas muitas crônicas, mas sei há anos do seu significado. É fácil, está em qualquer dicionário: é um poderoso de algum lugar do mundo antigo, como a Pérsia, dado à prática de despotismos.
O autoritarismo é traço dos que buscam o poder a qualquer custo e nele se eternizam. É o caso dos ditadores. É deles a arte de inventar bodes expiatórios para que justifiquem a violência em nome de Deus, da Pátria e da Família. O senhor Vladimir Putin é o mais perfeito exemplo. Reina em um império ainda com inegável poder bélico, mas já vivendo os sinais da decadência. É uma sociedade que não evoluiu, mesmo liderando o outro lado do mundo desde a II Guerra.
Lembrei os Sátrapas como quem vai buscar no fundo do tacho da memória só pelo agrado sonoro dos proparoxítonos. No caso, com estranho luxo de um trava-língua que não enriquece quem diz ou escreve, mas dosa a frase de ritmo forte. O cronista tem essa licença. Não se obriga às leis da concisão e da clareza, pilares da objetividade que deve proporcionar a compreensão de todos os leitores, afinal Marshall McLuhan tem suas razões: a mensagem pertence a quem recebe.
Mas veja, Senhor Redator, que, como desaforo, sátrapa sai da boca com forma, convicção e certo desprezo. Imagine você diante de uma autoridade, ainda que seja um simples inspetor de quarteirão, de dedo em riste e os olhos fumegantes, como dois canos de fuzil, largando essa palavra como se joga uma pedrada: “O senhor não passa de um sátrapa”. E, quanto menos ele puder entender, mais surpreso será seu olhar patético, apalermado, perdido na própria ignorância.
Não precisa ir mais longe. A Wikipedia informa a quem ainda duvidar: “Satrapia era o nome dado a governadores de províncias nos impérios da Aquemênida e Sassânida, ambos na Pérsia”. Eram, pois, Sátrapas aquelas figuras nomeadas pelo rei, postas a seus serviços, vontades e iras. A Wikipédia chega bem mais longe para informar que eles, os Sátrapas, eram “uma espécie de olhos do Rei”. O que na velha semântica do noticiário policial é conhecido como alcaguete.
Aliás, os reinados e seus Sátrapas ainda sobrevivem nos atapetados chãos palacianos. Como na Pérsia. Não destilam amor pelos senhores ou senhoras, o que seria compreensível, ainda que numa forma impura de amar. Não. Destilam raiva contra quem ousa criticar. E nem notam, esses que entoam o cântico de louvor, que o jornalismo não foi feito para agradar ou desagradar. O agrado e o desagrado são consequências naturais do ato de informar, opinar ou interpretar.
PALCO
CAIU – A chamada PEC da bandidagem não resistiu ao impacto com a multidão. E caiu à unanimidade de votos na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Dr. Ulysses Guimarães tinha razão.
OLHO – Do Lobo Guará, olhar ladino e faro felino: “O prefeito Paulinho Freire precisa ter toda atenção com operações financeiras vultosas se não forem oriundas de instituições não oficiais”.
AVISO – Esta coluna não negou o conforto de quem é o favorito nas pesquisas desde cedo. Mas, lembra: Carlos Eduardo Alves liderou todas as pesquisas e, sequer, alcançou o segundo turno.
SÁBADO – Será intenso, com visitas e palestras, o sábado no Instituto Histórico marcando o dia do museu. As peças históricas do seu acervo poderão ser visitadas com roteiros também guiados.
IRONIA – De Álvaro Costa e Silva, da Folha, num disparo certeiro com seu molho bem forte de ironia: “Em seu descaramento, a Câmara é transparente”. E depois: “A coisa é feita abertamente”.
HOJE – Nesta quinta, no Instituto Histórico, o professor Marconi Neves Macedo fala sobre ‘A evolução da Administração Pública no Rio Grande do Norte’. Com início às 17h, no Salão Nobre.
POESIA – No pequeno poema – ‘Há certas coisas’ – que fecha o livro ‘A Vida é um Escândalo’, Affonso Romano de Sant’Anna, avisa, grave: “Há certas coisas / que nem a poesia pode falar”.
PERIGO – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, já de couro passado na casca do alho, olhando a carne frágil do amor: “O ciúme é um monstro que é melhor mantê-lo dormindo”.
CAMARIM
SINHO – Acredite quem quiser e puder: o sonho, hoje, pelo menos de alguns assessores do prefeito Allyson Bezerra, de Mossoró, seria ter como vice o ex-prefeito Carlos Eduardo Alves, Não terá. Os astrólogos da política acham mais fácil a reaproximação de Carlos e Walter Alves.
DÚVIDA – E se nos próximos dias Donald Trump e Lula da Silva, via telefone ou quem sabe no Salão Oval da Casa Branca, acertarem o passo? Como ficarão os caudatários tão levados por suas posições extremas? Em matéria de política, a sofreguidão é o mais ineficiente dos conselheiros.
MAIS – Não se sabe se o discurso de Lula na ONU é filho do seu ministro das relações exteriores, Mauro Vieira; ou, do seu assessor para os assuntos internacionais, Celso Amorim. Seja de quem tenha sido, foi uma peça profissional. Manteve a coerência, as portas abertas e não sofreu críticas.
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