O gaúcho Ruy Carlos Ostermann – que morreu no fim de junho, aos 90 anos – se tornou uma lenda entre os comentaristas esportivos pela maneira inusitada de explicar o futebol para aqueles que acompanhavam suas considerações no rádio, na televisão ou na imprensa. “Ouvi-lo era achar que se podia entender o jogo”, escreve o romancista Michel Laub na edição deste mês da piauí. “Em Ostermann, havia uma mistura de informação e elevação poética, cujo tom não se confunde com o lirismo de um Armando Nogueira ou a metafísica passional de um Nelson Rodrigues.”
As imagens e metáforas do jornalista fugiam do lugar-comum e se revelavam mais concretas, ligadas à geografia e aos movimentos do que ele via antes de tudo como um jogo físico. “Numa transmissão de rádio, um volante deslocado para a lateral se atrapalhou porque não estava adaptado à ‘rotina do lugar’. Em outra, o fato de um meia franzino ser ‘pernalta’ tinha ligação com a sua ‘virtude de estar sempre em pé’. Numa terceira, uma bola recuperada por um zagueiro era a vitória ‘enérgica’ de um corpo ‘espadaúdo’”, conta Laub.
Apelidado de Professor, Ostermann comandou por 33 anos o Sala de Redação, um dos mais tradicionais programas radiofônicos de debates esportivos. Ali defendeu com coerência, verve e alguma rabugice a ideia de futebol que o resto do país associa ao Rio Grande do Sul – vigoroso, disciplinado, pragmático.
O jornalista também é considerado pioneiro na anotação dos dados de uma partida (número de escanteios, chutes, faltas, impedimentos), o que hoje os softwares de scouting fazem com mais precisão e abrangência. “Mas o rosto humano do futebol está sempre por baixo das máscaras científicas, e isso o professor sabia e celebrava”, afirma Laub.
Assinantes da revista podem ler a íntegra do texto aqui.