Vicente Serejo
[email protected]
Sabe-se, vendo ao longo dos séculos o exercício do poder político, que os poderosos não costumam cultivar a memória, ou relembrá-la, a não ser as próprias vitórias. Ninguém ensina um vitorioso a vencer, mas é possível ensiná-lo a não esquecer episódios sem os quais não é possível ter uma visão mais completa do processo histórico. Até para que episódios vividos não se repitam como novidades. É o velho saber de experiências feito, como ensinou Camões, o bardo caolho.
Deve ter sido por precaução – a de buscar na história a pedra da certeza – que Muniz Sodré, doutor e professor Emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, avivou na memória dos leitores, provavelmente muitos deles políticos, a reação do presidente Floriano Peixoto na Revolta da Armada, em 1893. Quando os comandantes dos navios estrangeiros indagaram como seriam recebidos “se decidissem pelos interesses locais dos seus países”, Floriano respondeu: “À bala!”.
Claro que a alegoria não pode ser aplicada no conflito tributário quando os Estados Unidos desafiam a soberania brasileira. Mas, com um mínimo de boa-fé, é possível compreender o tom do velho ‘Marechal de Ferro’, como chamavam, à época, o presidente Floriano Peixoto. Há limites inegociáveis no exercício da presidência de uma nação. Por uma razão: as decisões são revogáveis ou não, a partir das circunstâncias. Os princípios, não. A soberania há de ser, sempre, inegociável.
Um estadista não joga a cartada final, mesmo como ultimatum, antes de esgotar todas as possibilidades de negociação pública. Sobretudo, não o faz por interesses dos seus ódios e amores pessoais. Muito menos ainda em um jogo travado entre nações livres. A não ser que do outro lado do governante eleito pelo voto da maioria se esconda um agente de algum imperialismo truculento, esse novo mal que hoje ameaça corroer os princípios da liberdade que a democracia conquistou.
Ora, se na velha ética do confronto com o vitorioso não cabe humilhar o vencido, muito menos há de caber na vida política. Das vilas pobres às metrópoles ricas. O que o mundo assiste quebra todos os princípios que sempre foram os esteios da democracia americana. Com todos os defeitos que lhe possam ser atribuídos, nada justifica defender agressões como a desfechada contra a Universidade Harvard nos seus 400 anos com um acervo de 61 merecedores do Prêmio Nobel.
Mas, se há frutos podres a colher, se todo confronto gera suas consequências imprevisíveis ou inesperadas, então o professor Muniz Sodré tem razão: revelou “os conspiradores de quinta coluna brasileira”. É a lição que acima dos resultados se pode colher da missão, vitoriosa ou derrotada, que foi aos EUA em busca da negociação. Parece ficção, mas estamos diante do crime de lesa-pátria. A História, desde a Roma antiga, a de Rômulo e Remo, não perdoa a vassalagem…
PALCO
PEDRA – O prefeito Paulinho Freire poderá enfrentar questionamentos do MP em torno do parque que deseja urbanizar na área militar ao lado da Av. Roberto Freire. Tudo depende do seu projeto.
IDEIA – No governo Fernando Freire surgiu a ideia de pedir licença ao Ministério do Exército para duplicar o calçadão ao longo da Roberto Freire. Mas, à época, a licença não saiu do desejo.
METADE – Se só a metade da bancada federal se reuniu com o prefeito Alysson Bezerra é sinal de que o RN ainda não consegue reunir todos os partidos em defesa dos seus melhores interesses.
RISCO – O Lobo-Guará ouviu no café do Midway: “Às vezes, paga muito caro quem elege aquele que chega ao poder cercado dos poderosos. De um passarinho sem pai e sem mãe vira um gavião”.
MONSTROS – Traduzido no Brasil e lançado pela Amacord ‘Monstros, o dilema do fã”, de Caire Dederer, a famosa crítica literária consagrada nas páginas do New York Times e da Paris Review.
DETALHE – Claire Dederer parte de uma indagação: “É possível separar a obra do artista?”. Para a crítica, há escritores e artistas que, na vida íntima, escondem monstruosidades jamais publicadas.
POESIA – De Raimundo Carrero na novela ‘A Vida é Traição’, com título que é um verso de um dos mais belos poemas de Manuel Bandeira: “Na hora da morte os mortos chamam os mortos…”.
PONTE – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, na tarde de ventos uivantes varrendo as ruas velhas da cidade pachorrenta e tão cheia de sono: “A nossa pobreza política é comovente”.
CAMARIM
IMBROGLIO – Não será fácil uma chapa única de Direita. A menos que o ‘centro’ seja apenas um artifício retórico, na medida em que é pouco provável que o bloco liderado pelo União Brasil consiga convencer o senador Rogério Marinho e o ex-prefeito Álvaro Dias a não serem candidatos.
OU – Numa outra hipótese, se todos se unirem em torno da candidatura de Alysson Bezerra, atual prefeito de Mossoró que hoje lidera as pesquisas. O ponto comum é a união contra o PT, fixando a luta entre dois polos. Alysson conseguirá ser o nome comum a todas as siglas conservadoras?
FORTE – Para algumas fontes políticas que acompanham a articulação, parece isolar a candidatura de Álvaro Dias para fazê-lo disputar o Senado e subestima a força do senador Rogério Marinho, soprado pela força não de Bolsonaro, mas do Bolsonarismo. Subestimar pode desunir ainda mais.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.