Vicente Serejo
[email protected]
“Entre o Exército e o militarismo, vai um despenhadeiro. O militarismo é a canceração do Exército. Está para o Exército como o clericalismo para a religião, o demagogismo para o governo popular e o egoísmo para o eu. O militarismo pode trazer vantagens a militares esquecidos do voto profissional. Mas, para o Exército, é o descrédito, a ruína, o ódio público. Ora, a política no Exército, leva fatalmente ao militarismo. Entre o Exército e a política deve se levantar a mais alta muralha”.
Foi Ruy Castro que encontrou esse trecho num artigo de Ruy Barbosa publicado no ‘Jornal do Brasil’ na edição de 21 de junho de 1893. Ainda bem. Se fosse hoje, o autor sofreria um grande linchamento nas redes sociais. Além de comunista, coisa que Ruy Barbosa nunca foi, ainda teria o ódio dos bolsonaristas. E não por serem de Direita, mas jejunos. E daquela intolerância que nem a burrice consegue explicar. Afinal, os jejunos nada absorvem a não ser o que nutre a própria barbárie.
Os espetáculos protagonizados pelos militares nos dois maiores episódios mais recentes dos quais foram autores – a ditadura de 64 e o 8 de Janeiro – jamais poderão ser negados por eles mesmos. Os militares, em nome da subordinação a que são submetidos diante do presidente da República, constitucionalmente comandante em chefe das Forças Armadas, sepultaram, com as suas próprias posturas, o dever para com a Nação e o seu maior patrimônio que é a liberdade dos seus cidadãos.
Como retratou Ruy Castro, se deixaram levar por um capitão-presidente que “militarizou a política e politizou as Forças Armadas a um grau jamais concebido”. Registre-se, aí, as exceções, afinal sabiam que “entre o final dos anos 1980 e o início dos anos 1990, ele era uma persona non gratíssima na corporação – militar expulso por terrorismo, proibido de entrar nos quarteis”. Um intolerante pode presidir uma Nação pelo voto, mas sem direito de liderar um exército cabisbaixo.
Pior: no seu depoimento, não defendeu os militares com os quais contou. Como disse um deles, foi covarde e traidor. Os seus chistes, do pior mau gosto, como convidar o ministro Alexandre de Morais para ser seu vice e atribuir ao temperamento a sua grosseria política, revelou por inteiro o homem sem serenidade. Se é preciso uma referência, é lembrar a figura do general Castelo Branco, primeiro presidente da Ditadura, militar que deixou a presidência sem ferir as normas da corporação.
O espetáculo no plenário do Supremo mostrou aos brasileiros um homem fraco, desprovido de um padrão mínimo de civilidade. Tão primário que imaginou ser capaz de cobrir-se com uma pele de cordeiro e, assim, parecer um chefe de estado. Não foi capaz, sequer, de defender com destemor suas próprias ideias, mesmo as estapafúrdias. E ainda que seus súditos, nas redes sociais, lhe dirijam as palmas dos encômios. O Exército e a Aeronáutica resistiram e fizeram a diferença.
PALCO
DESAFIO – Resultado de uma expansão sem obras pluviais há décadas, Natal enfrenta hoje mais de cem pontos crônicos de alagamentos e inundações. Desafio que se agrava a cada novo inverno.
LIÇÃO – Do professor e filósofo de esquerda Valdimir Safatle, numa lição que flagra o erro do PT diante da uma Direita que cresce a cada dia: “Se você fala como seu inimigo, seu inimigo venceu”.
AVISO – Esta coluna não tem o menor interesse em julgar a Caern, a Prefeitura e a UFRN. Quer apenas que a cidade tenha informações concisas e claras do que pode ser feito por Ponta Negra. Só.
ALIÁS – Mesmo para quem nada tem diretamente com a questão o silêncio gera desinformação e todos os natalenses querem Ponta Negra preservada. O poder público unido pode ser melhor. É só.
HOJE – Elza Bezerra Cirne lança hoje seu novo livro – ‘Viúva Machado, a grandeza de uma mulher’ no Palácio Potengi, sede da Pinacoteca. O lançamento e a exposição sobre Natal começam às 17h.
SUCESSO – O São João de Mossoró emplacou ao reunir, ao mesmo tempo, o nacional e o local; a tradição e o novo. Em Natal, virou apenas um Carnajoão. Sem um traço cultural forte e identificador.
POESIA – Auta de Souza, numa prece: “É noite já. Como em feliz remanso / dormem as aves nos pequenos ninhos… / Vamos mais devagar … de manso e manso / para não assustar os passarinhos”.
LUTA – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, com anos de luta no couro grosso das costas: “Na política os piores inimigos não são os que lutam, mas os mascarados como técnicos”.
CAMARIM
ENGORDA – Não é verdade que a obra da engorda de Ponta Negra feriu normas e o seu litoral sofre com a erosão das águas pluviais. Não foi redimensionada a rede de galerias pluviais em razão do nível elevado da camada de areia para garantir a faixa de 100 metros na maré seca e 50 na cheia.
EFEITOS – A presença de águas poluídas pode ter duas razões: transbordo da rede pluvial para a rede de esgotos ou a presença de ligações clandestinas. Uma coisa é indiscutível: as águas pluviais, provenientes exclusivamente das chuvas não poluem. A rede pluvial precisa ser ampliada, isto sim.
ALIÁS – A cidade, hoje com mais de 100 pontos de alagamentos e inundações, paga o preço de um tempo no qual as ruas eram calçadas ou pavimentadas, reduzindo as áreas sem infiltração e sem rede de drenagem. Há algumas décadas que obras estruturais são relegadas para um futuro que não chega.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.