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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na noite desta segunda-feira (23/06) um cessar-fogo “completo e total” entre Israel e o Irã.
Trump afirmou nas redes sociais que o cessar-fogo começará “em aproximadamente seis horas”.
Segundo o republicano, “na 24ª hora” o conflito — que ele chamou de “a guerra dos 12 dias” — terminará oficialmente.
Israel e Irã ainda não confirmaram o cessar-fogo.
A mídia iraniana, incluindo a estatal, está se referindo à notícia como uma “alegação” de Trump.
Um funcionário de alto escalão do Irã disse à rede CNN que o país não recebeu nenhuma proposta de cessar-fogo.
Segundo a imprensa americana, o primeiro-ministro do Catar, Sheikh Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, ajudou a mediar o cessar-fogo. Mais cedo, bases militares americanas no país foram atingidas por ataques iranianos.
Logo após o anúncio por Trump, iranianos relataram ouvir explosões no início da madrugada (em horário local), segundo a repórter da BBC Ghoncheh Habibiazad.
Pessoas na capital, Teerã, e nas cidades de Karaj e Rasht dizem ter ouvido fortes explosões.
As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) emitiram três ordens de evacuação para diferentes distritos de Teerã.
Enquanto isso, veículos de imprensa iranianos relatam que a defesa aérea foi ativada em Teerã após as explosões.
De acordo com análise de Bernd Debusmann Jr, jornalista da BBC na Casa Branca, caso confirmado, o cessar-fogo será “reivindicado pelo governo [Trump] como uma das vitórias mais significativas da política externa” deste mandato — uma comemoração que não pode ser feita por exemplo sobre a guerra na Ucrânia, cujo fim lhe escapa das mãos.
“O fim do conflito no Oriente Médio, no entanto, será algo que o presidente e seus aliados apontarão como um progresso tangível, especialmente se for acompanhado do fim do programa nuclear iraniano, algo não alcançado pelos ex-presidentes Clinton, Bush, Obama e Biden”, escreveu Debusmann Jr.
Para Anthony Zurcher, correspondente da BBC na América do Norte, se a resposta iraniana acabar por aqui — tanto com um cessar-fogo quanto com o encerramento dos ataques realizados mais cedo no Catar —, pode ser sinal de que a arriscada ofensiva de Trump contra o Irã rendeu frutos em termos de estratégia.
“Se os danos forem de fato limitados e não houver novos ataques iranianos em vista, Trump parece inclinado a conter sua ofensiva, na esperança de que os iranianos estejam dispostos a negociar seriamente”, escreveu Zurcher.
“O ataque de Trump contra o Irã no fim de semana foi uma manobra de alto risco, mas há um cenário em que os resultados já estão começando a aparecer.”
Para Zurcher, até o momento, os iranianos estão demonstrando que querem proporcionalidade, e não a escalada do conflito — algo que Trump parece mais do que pronto para acatar.
Os preços do petróleo continuaram a cair após o anúncio de cessar-fogo por Trump.
O petróleo Brent, referência global, caiu mais 4%, para pouco mais de US$ 68 o barril — isso após uma queda de 7% no pregão de segunda-feira.
Os preços do petróleo estão agora mais baixos do que em 12 de junho, quando Israel lançou o primeiro ataque ao Irã.
Ataques ao Catar mais cedo
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Mais cedo na segunda-feira, o Irã lançou mísseis contra bases dos Estados Unidos no Catar, anunciando na mídia estatal ter iniciado uma resposta “poderosa e vitoriosa” aos ataques americanos às suas instalações nucleares no fim de semana.
Não houve feridos, reportaram o governo catari e americano.
Em um comunicado, a Guarda Revolucionária do Irã (IRGC, na sigla em inglês) afirmou que “[o Irã] não deixará nenhum ataque à sua integridade territorial, soberania e segurança nacional sem resposta, sob nenhuma circunstância”.
Em um primeiro momento, a agência estatal Tasnim afirmou que o Irã havia atacado também uma base americana no Iraque, mas sobre essa ação não há até o momento confirmação nem detalhes.
Algumas horas após o bombardeio iraniano, o presidente americano Donald Trump classificou a ação de Teerã como “muito fraca” e agradeceu o “aviso antecipado”.
“O Irã respondeu oficialmente à nossa destruição de suas instalações nucleares com uma resposta muito fraca, o que esperávamos e que combatemos com muita eficácia”, disse Trump na rede Truth Social, após se reunir com o Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.
O mandatário americano afirmou que 14 mísseis foram disparados pelo Irã — 13 dos quais foram “derrubados” e outro seguiu em uma “direção não ameaçadora”.
“Quase nenhum dano foi causado”, afirmou o presidente.
O governo do Catar fez uma “forte condenação” ao ataque à Base Aérea de Al-Udeid — que é tanto a maior base dos EUA na região, como o quartel-general avançado do Comando Central, que cobre todo o Oriente Médio.
“Consideramos isso uma flagrante violação da soberania do Estado do Catar, de seu espaço aéreo, do direito internacional e da Carta das Nações Unidas”, disse o porta-voz oficial do Ministério das Relações Exteriores, Majed al-Ansari.
Ele afirmou que os sistemas de defesa aérea do Catar “frustraram com sucesso o ataque e interceptaram os mísseis iranianos” e que a base já havia sido evacuada.
E acrescentou que “todas as medidas necessárias foram tomadas” para garantir a segurança do pessoal na base, incluindo membros das Forças Armadas do Catar, forças aliadas e outros.
Posteriormente, o Ministério das Relações Exteriores do Catar emitiu um comunicado afirmando que “a situação de segurança no país permanece estável e que não há motivo para preocupação”.
“O Ministério enfatiza a importância de não ceder a rumores ou à circulação de informações imprecisas”, diz o comunicado.
O Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã afirmou em um comunicado que, embora o Irã tenha “destruído” a base aérea americana no Catar, o ataque não representava “qualquer perigo para o Catar ou seu povo”, e acrescentou que o Irã “continua comprometido em manter e dar continuidade às suas relações calorosas e históricas” com o Catar.
O comunicado do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, citado pela mídia estatal iraniana, afirmava que “o número de mísseis utilizados foi o mesmo que o de bombas que os EUA usaram em três instalações nucleares iranianas”.
Al Udeid, localizada perto de Doha, capital do Catar, serve como quartel-general das operações aéreas do Comando Central dos EUA no Oriente Médio e abriga quase 8.000 soldados americanos.
As forças britânicas também passam pela base, às vezes chamada de Aeroporto de Abu Nakhla.
Atualmente, a instalação serve como quartel-general e base logística para as operações americanas no Iraque e também inclui a maior pista de pouso da região do Golfo.
O Catar concedeu aos Estados Unidos acesso à base de Al Udeid em 2000.
Depois que os americanos assumiram a administração da base em 2001, Doha e Washington assinaram um acordo em dezembro de 2002 que reconheceu oficialmente a presença militar americana na base, de acordo com a empresa de inteligência Grey Dynamics, sediada em Londres.
Em 2024, a CNN informou que os EUA chegaram a um acordo para estender sua presença militar no Catar por mais 10 anos.
Em maio, Donald Trump visitou a base como parte de sua viagem à região.
Durante um discurso, ele disse aos militares: “Como presidente, minha prioridade é encerrar conflitos, não iniciá-los. Mas nunca hesitarei em exercer o poder americano, se necessário, para defender os Estados Unidos da América ou nossos parceiros.”
Após os ataques do fim de semana, o presidente americano afirmou que qualquer retaliação do Irã seria “respondida com uma força muito maior”.
Os EUA mantêm um relacionamento próximo com o Catar, fornecendo mais de 26 bilhões de dólares em equipamentos militares, armas e serviços no sistema de Vendas Militares Estrangeiras (FMS, nas siglas em inglês).
Isso torna o Catar o segundo maior parceiro de FMS dos Estados Unidos no mundo.
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Trump na Otan
Na terça-feira, Trump deve voar para a Holanda para uma cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Esta será a primeira reunião de Trump na Otan desde que foi reeleito. No passado, ele fez comentários irados sobre membros da aliança se aproveitando das garantias de segurança dos EUA.
Aliados europeus estão desesperados para provar que ele está errado. Eles esperam convencê-lo a não retirar tropas ou recursos americanos do continente. Por outro lado, diante dos ataques, não será possível deixar o assunto de lado, algo que pode levar a desavenças entre o americano e os europeus, que defenderam a diplomacia em vez dos bombardeios quando se tratava do Irã.
Trump adora uma vitória e é muito sensível. Ele não vai querer sentir nenhuma desaprovação na reunião da Otan, informa Katya Adler, editora de Europa da BBC.
Separadamente, ele tinha a garantia de uma vitória que chamasse a atenção nas manchetes na cúpula, com os países europeus se comprometendo a gastar impressionantes 5% do PIB em defesa — exatamente como ele exigiu em suas primeiras semanas de volta à Casa Branca.
“Esta cúpula é sobre credibilidade”, afirmou o embaixador dos EUA na OTAN, Matthew Whitaker.
Mas a Espanha afirmou no domingo que havia garantido uma opção de não participação no novo plano de gastos — algo que Rutte negou posteriormente.
Outros aliados na Europa que estão lutando para encontrar o dinheiro extra também estão irritados.
A questão principal é: a Europa precisa manter os EUA, grandes potências militares e nucleares, do lado deles. Foi assim que Rutte conseguiu convencer líderes relutantes — exceto a Espanha — a aderirem à nova iniciativa de grandes gastos. É um compromisso enorme.
Mas, como afirmou a ex-embaixadora dos EUA na OTAN, Julianne Smith, mesmo assim, não há absolutamente nenhuma garantia com Trump.
Ataques recentes de Israel ao Irã
Os ataques ocorreram horas depois de Israel ter lançado uma série novos ataques contra o Irã, um dia após os bombardeios dos EUA às instalações nucleares iranianas.
Israel disse ter realizado novos ataques a Fordo — a instalação nuclear subterrânea vital para as ambições nucleares do Irã. Os EUA disseram ter também atacado o local no fim de semana.
Os jatos subsônicos, que viajam pouco abaixo da velocidade do som, sobrevoaram o Oceano Atlântico carregados com poderosas bombas “destruidoras de bunkers”, capazes de penetrar concreto a mais de 18 metros de profundidade.
Esse é o tipo de armamento necessário para atingir a instalação de Fordo, que fica sob uma montanha. A planta de enriquecimento de urânio é considerada a joia da coroa do controverso programa nuclear iraniano.
Os EUA são o único país do mundo conhecido por possuir esse tipo de arma.
A Casa Branca também havia pedido que a China pressionasse o Irã a não fechar o Estreito de Ormuz, uma rota marítima crítica, especialmente para o escoamento do petróleo e do gás.
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, estava em Moscou na segunda-feira para conversas com Vladimir Putin sobre “desafios e ameaças comuns”.
Durante as negociações, Putin disse que o ataque contra o Irã é “infundado”.
“Uma agressão absolutamente sem provocação contra o Irã não tem fundamento nem justificativa”, afirmou o presidente russo em seu discurso de abertura, transmitido ao vivo pelo canal de notícias da TV estatal russa.
“Estou muito satisfeito com a presença de vocês em Moscou hoje. Isso nos dá a oportunidade de discutir todos esses assuntos difíceis e pensar juntos em como encontrar uma saída para a situação atual.”