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    Piauí

    Pequenas cidades, grandes estragos – revista piauí

    28 de agosto de 202511 Minutos de Leitura
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    Bituruna é uma cidade no Sul do Paraná que tem como um de seus principais marcos arquitetônicos o Garrafão: uma escultura de 18 metros de altura que emula um galão de vinho, uma taça cheia e um cacho de uvas roxas. Povoada por descendentes de italianos, a cidade detém o título de capital estadual do vinho e fatura com o enoturismo. Mas uma parte igualmente importante de sua economia depende das florestas de pinheiros americanos, características da região. Madeira é o principal produto que os biturenenses exportam. No ano passado, as vendas internacionais de tacos, frisos, espigas, ranhuras, entalhes, fasquias, molduras e outros cortes renderam 27 milhões de dólares para os produtores locais – cerca de 150 milhões de reais. A madeira é embarcada para dezenas de países, mas de longe o maior comprador são os Estados Unidos. Recebem 70% do que Bituruna exporta anualmente.

    Ao menos era assim. Agora, na cidade, nenhum produtor arrisca dizer se, no mês que vem, seus produtos ainda serão desejados pelos americanos. “O tarifaço nos pegou em cheio”, lamentou o vice-prefeito Deco Coloda (MDB), de 50 anos, em entrevista por telefone à piauí. Desde o dia 6 de agosto, por decisão do presidente Donald Trump, a madeira brasileira tem sido sobretaxada em 50% ao entrar nos Estados Unidos (a única exceção foi a madeira serrada, que não se faz em Bituruna). Para os importadores americanos, portanto, ficou 50% mais caro comprar os produtos da cidade. É provável que, para fugir do tranco, muitos deles procurem fornecedores de outros países que ofereçam a mesma qualidade por valor menor.

    “Não temos esperança de que o mercado americano absorva o novo preço. Ficou muito mais caro”, disse Coloda. Seu pai, Arcindo Coloda, morto em julho, fundou a Madcol, uma das cinco empresas de Bituruna especializadas na fabricação de molduras de quadros e madeira compensada, muito requisitada pela construção civil nos Estados Unidos (é tradicionalmente usada para residências em lugares frios). Sua planta industrial é capaz de produzir 4 mil m³ de madeira compensada por mês. Mais da metade dessa produção era embarcada em navios para os Estados Unidos, uma relação comercial duradoura que praticamente se desmanchou nas últimas duas semanas. As encomendas, segundo o vice-prefeito, caíram 60%. Dos trezentos funcionários da empresa, 87 já foram demitidos. Os demais estão trabalhando em sistema de rodízio.

    As concorrentes tomaram decisões semelhantes para evitar a falência, o que, nas palavras de Coloda, “deu um gelo total” em Bituruna. “O pessoal anda bem desmotivado. Isso porque o impacto ainda não chegou na rotina do borracheiro, do mecânico, do dono de mercado. Mas é questão de tempo.” Ele estima que quase 90% da atividade econômica da cidade será afetada pelo tarifaço, direta ou indiretamente. Teme que, devido ao desemprego, o município de 16 mil habitantes sofra um êxodo. “Nós estamos dando entrevistas, falando nas rádios locais, para que o pessoal tenha noção da gravidade do que está acontecendo e as razões para isso. Vai ser devastador.”

    Nas fábricas, por outro lado, a ordem tem sido evitar a imprensa. “[Os patrões] não querem passar a imagem de que as empresas estão falindo. Isso pode afetar as encomendas que restam”, disse o funcionário de uma exportadora, pedindo que seu nome fosse omitido. As indústrias de madeira e de móveis empregam cerca de 80 mil pessoas no Paraná, número que não é igualado por nenhum outro estado.

    A devastação mencionada pelo vice-prefeito tem sido vista em muitas cidades que vivem do corte de madeira. A Millpar, fabricante de molduras, parou por completo a produção da sua unidade em Quedas do Iguaçu (PR). Seus únicos clientes eram americanos. Agora, dos 1,1 mil funcionários, 720 estão em férias coletivas. Continuam recebendo os salários, mas a empresa, com isso, economiza custos de produção. Em Telêmaco Borba (PR), a Braspine, exportadora de molduras e pallets, deu férias coletivas a 1,5 mil funcionários – metade do seu quadro profissional.

    Quase todo dia, histórias como essas chegam ao conhecimento da Abimci, a Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente, sediada em Curitiba. Como Trump não dá sinais de que pretende renegociar, os produtores perderam o sono. “Buscar novos mercados não é uma possibilidade no nosso setor. Nem a médio nem a longo prazo. Foram décadas para conquistar o mercado americano, com produtos específicos para eles. Não tem demanda em outros mercados que possa absorver o que exportamos para os Estados Unidos. Mesmo que a gente exporte para o mundo todo”, explicou Paulo Pupo, superintendente da Abimci.

    Codona, o vice-prefeito, tem ouvido relatos de empresários que passaram a tomar remédios para ansiedade. E avalia que, do pacote de 30 bilhões de reais anunciado por Lula para ajudar os setores mais afetados pela taxação, pouco ou quase nada vai chegar em Bituruna. “O Brasil inteiro vai disputar esses recursos”, queixou-se.

    Carne bovina, peixe, fruta, café, aço, alumínio, cal, cimento, calçados, máquinas industriais, açúcar, melaço, cacau… É longa a lista de exportações atingidas pelo tarifaço, uma medida sem precedentes na história recente do Brasil. A sobretaxa, que inviabiliza a venda de parte desses produtos para os Estados Unidos, vem causando estragos em pequenas e médias cidades do Brasil que dependem do comércio com os americanos. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) calculou que, se as tarifas forem mantidas por um ano e não houver uma solução abrangente para escoar os produtos brasileiros para outros países, o Brasil pode perder 727 mil empregos e 11 bilhões de reais em impostos.

    Muitos outros países foram alvo de sobretaxas desde a posse de Trump, em janeiro, mas, com exceção da Índia, nenhum teve um aumento tão grande quanto o Brasil – já que, no caso brasileiro, não se trata de estratégia comercial, mas de chantagem para livrar o ex-presidente Jair Bolsonaro da investigação por tentativa de golpe de Estado. Primeiro, Trump impôs, em abril, uma taxação de 10% sobre todos os produtos exportados do Brasil para os Estados Unidos. Na ocasião, a que o presidente se referiu como “dia da libertação”, outros países levaram a pior – caso do Camboja, que entubou uma sobretaxa de 49%, e do Vietnã, de 46%. Até que, em julho, numa carta pública a Lula, Trump passou o Brasil à frente de todos, elevando a tarifa para 50% e criticando o que chamou de “caça às bruxas” contra Bolsonaro. Outros países já tiveram suas tarifas revistas por Trump. A do Brasil segue intacta.

    O governo americano divulgou uma lista de 694 produtos que foram poupados da segunda martelada, como petróleo, querosene, pedras de mica, aviões, suco de laranja, carvão e minério de ferro. Para esses, continua valendo a tarifa de apenas 10%. Os empresários de outros setores tentam negociar clemência. Há produtores de café com sacas embaladas, prontas para exportação, mas empacadas, já que os compradores americanos se assustaram com a tarifa e adiaram suas compras.

    “Na semana em que o tarifaço foi anunciado, eu chorei tanto… Tenho uma funcionária a quem pretendia promover, mas já avisei que agora não vai dar”, disse à piauí uma produtora do interior de Minas Gerais que pediu para ter seu nome preservado. Ela contou que, há mais de um mês, tem telefonado diariamente para um de seus clientes, um comprador de café sediado no Sul dos Estados Unidos. Espera dele o sinal verde para que possa embarcar as 640 sacas de grãos verdes de café especial que estão paradas na sua empresa desde meados de julho. O cliente encomendou o lote em junho e deu para trás quando soube do tarifaço, que tornaria o produto 50% mais caro para o consumidor final.

    Normalmente, quando um cliente desiste da compra, o fornecedor não fica de mãos abanando: uma cláusula contratual garante que ele receba ao menos 20% do valor da encomenda cancelada. Mas a empresária disse que, como conhecia o americano havia três anos e mantinham boa relação (ele chegou a visitar sua fazenda, no interior de Minas), achou que não haveria risco em vender sem contrato. Caso ele desista, portanto, o prejuízo será inteiramente dela. E não é pouco: as 640 sacas preenchem dois contêineres do Porto de Santos, cada um valendo cerca de 900 mil reais (o valor varia segundo a cotação do café na Bolsa de Nova York).

    A rotina exasperante resultou em bruxismo e ansiedade. “Hoje tomo meio Donaren para dormir”, ela disse. Agora, a empresária está em busca de compradores em Dubai, para repor as vendas que perdeu. Outro dia, porém, recebeu um afago que amenizou a angústia: um de seus clientes americanos assumiu a compra de um contêiner mesmo com a taxa exorbitante de Trump.

    No dia 5 de julho, Natasha Castellan recebeu a pior notícia possível: Lula anunciou um acordo para comprar tilápias do Vietnã em troca de carne bovina. Como o peixe vietnamita é mais barato do que o brasileiro, devido à diferença dos custos de produção nos dois países, Castellan se viu em apuros. Ela é diretora de finanças e exportações da Brazilian Fish, empresa de Santa Fé do Sul (SP) que exporta tilápias pescadas no Rio Paraná. Sabia que, em breve, seus peixes – vendidos tanto frescos quanto congelados – perderiam competitividade nos supermercados.

    Conversando com os colegas, Castellan bolou uma estratégia de negócios: a empresa passaria a exportar cada vez mais tilápias para os Estados Unidos, reduzindo sua dependência do mercado nacional. Não era um plano mirabolante, porque cerca de 20% da produção da Brazilian Fish já ia mesmo para o mercado americano, onde a tilápia anda se popularizando. O peixe recém-pescado do Rio Paraná demorava 48 horas para chegar até o importador americano. Era posto num caminhão que o levava do frigorífico até o aeroporto de Guarulhos ou Campinas. Embarcava às dez da noite e pousava às seis da manhã, pegando voos diários.

    O plano, porém, não durou mais do que cinco dias. Em 10 de julho, a cartinha azeda de Trump suspendeu os planos da Brazilian Fish de se expandir nos Estados Unidos. A empresa se viu numa situação difícil: de um lado, a concorrência vietnamita; do outro, portas fechadas no mercado americano. Além de tudo, o anúncio de Trump foi um baque para Santa Fé do Sul, cidade que exporta principalmente carne bovina e peixes, ambos taxados em 50%. A carne tem como destino principal a Turquia; os peixes vão quase todos para os Estados Unidos, que em 2024 desembolsaram 5,8 milhões de dólares pelas tilápias produzidas ali.

    “A tarifa inviabilizou nosso negócio com os Estados Unidos”, disse Castellan, de 41 anos. Desde 6 de agosto, quando a sobretaxa entrou em vigor, as encomendas feitas pelos americanos caíram pela metade. Como os madeireiros, os piscicultores não têm outros mercados a explorar. A China, principal parceiro comercial do Brasil, é o maior produtor de tilápias do mundo e já abastece países para onde a produção brasileira poderia ser escoada. Somam-se ainda Indonésia e Egito, que também faturam alto com o peixe. Os mercados fiéis à tilápia brasileira não têm um consumo grande o suficiente que lhes permita compensar pelos Estados Unidos.

    Castellan se casou com um piscicultor de Rubinéia, cidade vizinha de Santa Fé do Sul. “Foi meu sogro quem começou nessa área, há dezessete anos. Ele arrendou três tanques escavados e tinha cinco funcionários. Meu marido toca o negócio hoje com um sócio e 75 funcionários”, disse Castellan. O casal conhece bem a cadeia de exportação de tilápias, que incluiu desde a criação de alevinos até o fornecimento de ração para os peixes. Sabe, portanto, que o strike das tarifas será geral e pode mudar a economia do Oeste paulista se não houver uma renegociação. A Brazilian Fish tem seiscentos funcionários e não informou se houve demissões por ora.

    A empresa do marido de Castellan contraiu recentemente um financiamento, mirando uma expansão dos negócios. Nenhum dos dois podia imaginar o que vinha pela frente, e agora se preocupam com o pagamento das parcelas no meio da crise. “Tudo o que a gente podia fazer a gente fez. O resto está nas mãos de Deus. Temos fé. É só por isso que conseguimos dormir”, ela disse.





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