Cláudio Oliveira
Repórter

O mercado imobiliário da Grande Natal iniciou 2025 em ritmo mais moderado, após um 2024 marcado por forte expansão. A desaceleração, no entanto, não é vista como sinal de retração estrutural, mas sim como um movimento de reorganização do setor. É o que aponta a mais recente edição do Censo Imobiliário, realizada pela Brain – Inteligência Estratégica, a pedido do Sinduscon/RN e do Sebrae/RN. Se entre 2023 e 2024 houve crescimento de 98,6% nos lançamentos em Natal, no primeiro trimestre de 2025 a retração foi de 54,1% em relação ao mesmo período do ano passado. No mesmo recorte, as vendas caíram 11,3%, ao passo que na comparação 2023 x 2024 subiram 28,39%.

Segundo Sérgio Azevedo, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do RN (Sinduscon/RN), a retração registrada no primeiro trimestre ocorre, principalmente, em empreendimentos voltados à classe média em Natal. “Após um 2024 marcado por recordes históricos, com destaque para Natal, que cresceu quase 100% em relação a 2023, é natural que o setor experimente um período de acomodação”, afirmou.

Ainda de acordo com Sérgio Azevedo, o cenário atual reflete a combinação de uma base comparativa elevada com os efeitos de uma taxa de juros ainda alta. Apesar disso, o dirigente reforça que o mercado permanece saudável, com volume de vendas estável. “Essa pausa abre espaço para a maturação de novos produtos, especialmente com o avanço das discussões sobre a legislação urbana e o interesse crescente de novas incorporadoras na capital”, pontuou.

O padrão médio, com imóveis entre R$ 400 mil e R$ 800 mil, segue como o segmento de maior procura em Natal, mas há também sinais de retomada no alto padrão e em projetos de estúdios e unidades compactas, voltados a um novo perfil de investidor.

Já na região metropolitana, o protagonismo está com o programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), concentrado em municípios como Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo do Amarante e Extremoz, impulsionado pela maior oferta de crédito via FGTS. “Essa distinção está diretamente relacionada ao perfil de renda das cidades: Natal, com renda média mais elevada, também tem se destacado nas faixas de alto padrão, inclusive com empreendimentos acima de R$ 2 milhões”, aponta Azevedo.

Junto a Natal, essas cidades representam 39% da população e 62% do potencial de consumo do Estado. Para Marcelo Toscano, diretor de Operações do Sebrae-RN, o programa habitacional tem papel estratégico e estruturante fora da capital. “Com o aumento do teto de financiamento e novas regras mais atrativas, o programa vem impulsionando fortemente o volume de lançamentos e vendas nas cidades do entorno de Natal”, disse. Ele destaca ainda que 63,6% da oferta final da região metropolitana corresponde a imóveis do padrão econômico.

O alto custo dos terrenos na capital é um dos fatores que explicam a concentração do MCMV fora de Natal, segundo Marcelo Toscano. “O programa cumpre um papel duplo no RN: viabiliza o acesso à moradia para milhares de famílias e sustenta a cadeia produtiva da construção civil”, afirmou.

Plano Diretor criou novo ambiente

Em comparação com outras capitais do Nordeste, Natal vinha apresentando um desempenho inferior até 2024, com número reduzido de lançamentos. “Em 2023, por exemplo, Natal lançou apenas 682 unidades, número significativamente inferior ao de cidades como João Pessoa (6.720), Maceió (4.822) e Salvador (6.792). Essa diferença colocava a capital potiguar em desvantagem frente aos demais centros urbanos da região”, pontua Marcelo Toscano.

Contudo, a atualização do Plano Diretor em 2022 trouxe mais flexibilidade para a ocupação do solo e para a verticalização, criando um novo ambiente de investimentos. “O novo marco regulatório abriu espaço para o retorno dos investimentos imobiliários na capital, principalmente nos segmentos médio, alto e luxo, que já apresentam sinais de recuperação em bairros como Capim Macio, Lagoa Nova, Tirol e Petrópolis”, acrescentou Marcelo Toscano.

Crescimento

A pesquisa indica que, embora o primeiro trimestre de 2025 tenha registrado uma queda de 26,8% no Valor Geral de Vendas (VGV) lançado no Nordeste em relação ao mesmo período de 2024, o setor continua em trajetória de crescimento. As vendas no Brasil subiram 20,7% entre 2023 e 2024; no Nordeste, o salto foi ainda mais expressivo: 41,7%.

No entanto, o 1º trimestre de 2025 trouxe uma leve desaceleração, principalmente nos lançamentos e VGV do Nordeste, que registrou queda de 26,8% no VGV lançado em relação ao mesmo período do ano anterior. Essa oscilação aponta para um momento de ajuste de mercado, natural após períodos de forte expansão.

As perspectivas para os próximos ciclos permanecem otimistas. “Em Natal, a chegada de novas incorporadoras e a modernização das regras urbanísticas devem impulsionar tanto o mercado de classe média quanto o de alto padrão”, concluiu Sérgio Azevedo.



Source link

Compartilhar.
Exit mobile version