
Mais de 40 dias após um mutirão oftalmológico realizado no Hospital de Clínicas de Campina Grande, no Agreste da Paraíba, pacientes ainda relatam perda parcial ou total da visão. A iniciativa, promovida em 15 de maio por meio de uma parceria entre a Secretaria de Saúde da Paraíba e a Fundação Rubens Dutra, atendeu 64 pessoas. No entanto, pelo menos 29 delas relataram complicações após os procedimentos.
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A aposentada Anita Terina da Costa, de 89 anos, é uma das afetadas. Antes da cirurgia, já possuía uma limitação visual no olho esquerdo, mas havia recuperado parte da visão com tratamento. Agora, perdeu totalmente a visão do olho.
“Eu não tenho esperança de voltar com essa visão, não. Não tenho esperança. Estou certa de que vou ficar assim até o fim”, contou a aposentada.
Segundo o filho de Anita, a família assumiu os custos com transporte, medicamentos e cuidados diários, e que nenhum órgão público entrou em contato para prestar assistência. A perda da visão também limitou a locomoção da idosa.
“Toda semana é duas ou três vezes no Help, tendo que pagar carro por aplicativo e medicação. É toda hora, tem que comprar todos os colírios. A gente tem um custo muito alto. A gente também tem que colocar gente pra cuidar dela, porque ela não consegue mais fazer nada”, afirmou o filho da aposentada, Inácio Quaresma.

Outra paciente, Errta Rianny, também teve a visão parcialmente comprometida após o procedimento. A princípio, pensou se tratar de uma reação normal, mas os sintomas pioraram e ela precisou passar por uma cirurgia de emergência em João Pessoa.
“Uma cirurgia bastante delicada, que teve que colocar uma nova lente, teve injeção de antibiótico, e o médico também realizou catarata e colocou óleo de silicone pra evitar o risco de atrofiar o olho”, afirmou.

A Secretaria de Saúde da Paraíba afirma que a aposentada Anita Terina recebeu assistência adequada e que houve oferta de continuidade do tratamento em João Pessoa, mas ela recusou. Segundo a gestão, após a alta hospitalar, ela escolheu seguir o tratamento em clínica credenciada em Campina Grande.
Enquanto isso, o caso continua sob investigação da Polícia Civil. Depoimentos de pacientes e profissionais de saúde já começaram a ser colhidos desde o dia 27 de maio e o procedimento segue em segredo de justiça. O Conselho Regional de Medicina e o Ministério Público da Paraíba também apuram os fatos, mas não comentaram o andamento dos processos.

Entenda o caso
Pacientes submetidos a procedimentos oftalmológicos durante um mutirão realizado no Hospital de Clínicas de Campina Grande, na última quinta-feira (15), têm relatado complicações graves, incluindo casos de infecção e até perda total da visão.
De acordo com as denúncias, que começaram a ser veiculadas na segunda-feira (19), já no fim de semana seguinte ao mutirão, diversos pacientes procuraram atendimento em outras unidades de saúde relatando dores intensas e sinais de infecção ocular.
Segundo a SES-PB, 64 pessoas foram atendidas na ação, realizada por meio de um contrato entre a secretaria e a Fundação Rubens Dutra Segundo. Parte dos medicamentos usados no mutirão oftalmológico que aconteceu no Hospital de Clínicas estava vencida, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (SES). Ao menos 6 dos 30 frascos da medicação utilizada estavam vencidos e abertos.
A Fundação Rubens Dutra, por sua vez, nega o uso de medicamentos vencidos e afirma que, desde que tomou conhecimento da situação, iniciou um processo de busca ativa pelos pacientes que apresentaram sintomas.
O diretor do Hospital de Clínicas registrou um boletim de ocorrência após o início da repercussão do episódio. A Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba (SES-PB) também instaurou uma investigação.