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O Irã acusou os Estados Unidos de terem “declarado guerra” sob um “pretexto absurdo”, após bombardeios realizados três grandes instalações do país.
A declaração foi feita pelo embaixador iraniano na ONU, Amir Saeid Iravani, durante a sessão de emergência do Conselho de Segurança da ONU neste domingo (22/6).
Iravani afirmou que o Irã se reserva o direito de “se defender” contra “agressões descaradas dos EUA”.
Ele acrescentou que a natureza, o momento e a escala da resposta iraniana serão decididas por suas Forças Armadas.
Iravani também acusou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de arrastar os EUA para “mais uma guerra custosa e infundada”, e afirmou que as ações dos EUA e de Israel representam “uma violação flagrante do direito internacional”.
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A escalada de tensão provocou uma série de reações durante a reunião emergencial do Conselho de Segurança. O embaixador de Israel, Danny Danon, saiu em defesa das ações de Washington.
“O mundo inteiro deveria dizer aqui hoje, oficialmente: obrigado. Obrigado a Donald Trump por agir quando tantos hesitaram”, afirmou Danon.
Para ele, “a diplomacia foi tentada”, mas o Irã “transformou a negociação em teatro” e a usou como “camuflagem” para ganhar tempo, construir mísseis e enriquecer urânio”.
Danon acusou o Irã de ter assinado acordos “que nunca teve a intenção de cumprir” e defendeu que a inação teria sido “uma sentença de morte” para Israel e seus aliados.
Em contraste, o embaixador da China declarou que Pequim “condena veementemente” os ataques dos EUA.
Já o embaixador da Rússia, Vasily Nebenzya, alertou que Washington “abriu uma caixa de Pandora” e demonstrou que “claramente não tem interesse na diplomacia”.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, também se pronunciou: “Os bombardeios representam uma virada perigosa em uma região já abalada. É urgente romper mais um ciclo de destruição”, disse.
EUA dizem que instalações nucleares do Irã estão ‘devastadas’
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Horas antes, o presidente americano, Donald Trump, celebrou nas redes sociais o resultado dos bombardeios.
“Os danos às instalações nucleares no Irã são descritos como ‘monumentais’. Os ataques foram duros e precisos. Nossas Forças Armadas demonstraram grande habilidade. Obrigado!”, escreveu na plataforma Truth Social.
Trump também sugeriu uma possível mudança de regime em Teerã: “Se o regime atual do Irã não é capaz de TORNAR O IRÃ GRANDE NOVAMENTE, por que não haveria uma mudança de regime?”, publicou, em tom provocativo.
O secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, afirmou que foram planejados para “degradar” e “destruir” as capacidades nucleares do país.
Ele assegurou que a ação militar americana “devastou” o programa nuclear iraniano, mas não afetou tropas ou civis do país.
Apesar disso, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) afirmou que o “grau de dano nas salas de enriquecimento de urânio em Fordo não pode ser determinado com certeza”.
O ministro das Relações Exteriores do Irã alertou para “consequências duradouras” dos ataques, que ele classificou “ultrajantes”.
O presidente de Israel disse à BBC que o programa nuclear iraniano foi atingido “substancialmente”, mas os detalhes completos da ação militar ainda não foram divulgados.
Já as Forças de Defesa de Israel (IDF) disseram que ainda estão avaliando a situação e a extensão dos danos causados pelo ataque americano.
Nas últimas horas, Irã e Israel também trocaram mais uma nova onda de ataques com mísseis.
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O que sabemos sobre os ataques dos EUA
Ainda na noite de sábado (21/6), no horário de Brasília, Trump fez o anúncio oficial de que os EUA realizaram ataques a três instalações nucleares no Irã.
Os locais atingidos foram Fordow, Natanz e Isfahan (veja a localização das instalações no mapa abaixo).
Poucas horas depois, o Irã confirmou que as três instalações nucleares foram de fato atacadas.
Na sequência, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, emitou um comunicado afirmando que “o presidente Trump e os Estados Unidos agiram com muita força”.
Por volta das 23h, no horário de Brasília, Trump fez um pronunciamento à nação, em que alertou que o Irã “deve agora fazer a paz” ou enfrentará ataques “muito maiores”.
Nas primeiras horas do domingo (22/6) Israel afirmou que o Irã lançou uma nova onda de ataques contra o seu território.
Informações preliminares divulgadas pela Agência Internacional de Energia Atômica asseguraram que não há “aumento” nos níveis de radiação em instalações nucleares iranianas após os ataques.
A Crescente Vermelha no Irã informou que 11 pessoas sofreram ferimentos leves durante os ataques dos EUA às instalações nucleares. Sete delas já receberam alta do hospital.
A instituição acrescentou que nenhuma radiação foi detectada nas instalações nucleares visadas pelos EUA.
O chefe do Crescente Vermelho do Irã, Pirhossein Koulivand, afirma que três socorristas também foram mortos em ataques israelenses separados em vários locais do país e que um helicóptero da Crescente Vermelha foi atingido.
Numa declaração direto do Pentágono em Washington, Hegseth afirmou que muitos presidentes “sonhavam em desferir o golpe final no programa nuclear do Irã, mas nenhum conseguiu até Trump”.
Ele acrescentou que a operação no Irã foi “ousada e brilhante”.
O secretário de Defesa dos EUA defendeu que o presidente Trump “busca a paz”.
Hegseth leu uma série as postagens de Trump nas redes sociais feitas durante o sábado (21/6), que alertavam que qualquer retaliação do Irã seria respondida com uma força “muito maior”.
“O Irã seria inteligente se prestasse atenção a essas palavras, ele disse isso antes, e ele fala sério”, alertou Hegseth.
Hegseth também descreveu o equipamento militar que os EUA usaram em seu ataque ao Irã.
Segundo ele, os bombardeiros furtivos B-2 “entraram, saíram e voltaram das instalações nucleares do Irã sem que o mundo soubesse”.
Esses grandes grandes jatos são considerados as únicas aeronaves com capacidade de transportar armas capazes de atingir a instalação nuclear mais segura do Irã, em Fordow, que fica enterrada nas profundezas de uma montanha.
“O ataque incluiu a mais longa missão com o bombardeiro Spirit B-2 desde 2001 e o primeiro emprego operacional do MOP (Massive Ordnance Penetrator)”, acrescentou ele.
Hegseth enfatizou que “esta missão não era e não tem sido sobre uma mudança de regime” no Irã.
“O presidente autorizou uma operação de precisão para neutralizar as ameaças aos nossos interesses nacionais representadas pelo programa nuclear iraniano e pela autodefesa coletiva de nossas tropas e de nosso aliado, Israel.”
Dan Caine, chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA detalhou que a missão foi “altamente sigilosa”. De acordo com o relato dele, , com pouquíssimas pessoas em Washington sabiam o momento ou a natureza deste plano.”
Caine confirmou que todos os três alvos de infraestrutura nuclear iraniana foram atingidos.
Segundo o general, cerca de 75 “bombas guiadas de precisão” foram usadas, incluindo 14 “Massive Ordnance Penetrators” (MOP), a bomba capaz de atingir instalações subterrâneas.
“Parece que os sistemas de mísseis terra-ar do Irã não nos avistaram”, relata ele, acrescentando que, durante a missão, os EUA não tiveram conhecimento de nenhum contra-ataque iraniano.
Caine ponderá que levará algum tempo para que seja possível avaliar a extensão completa dos danos sofridos pelo Irã.
“Os danos finais da batalha levarão algum tempo para serem conhecidos, mas uma avaliação inicial indica que todos os três locais sofreram danos e destruição extremamente graves”, afirma ele.
O vice-presidente J.D. Vance também concedeu uma breve entrevista ao canal de televisão NBC News, na qual afirmou que “os Estados Unidos não estão em guerra com o Irã”.
“Estamos em guerra com as ambições nucleares [do Irã]”, disse ele.
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Há evidências para o grau da destruição?
Gary O’Donoghue, correspondente-chefe da BBC News na América do Norte, observa uma certa estranheza entre as informações divulgadas pelo Pentágono e o discurso de Trump.
Ele destaca que os militares disseram que avaliação dos danos do ataque às instalações nucleares iranianas ainda está em andamento.
“Isso era de se esperar, mas também se encaixa de forma estranha na ousada afirmação do presidente Trump de que as instalações de enriquecimento nuclear do Irã foram completa e totalmente obliteradas”, escreve ele.
“A retórica é forte, mas as evidências ainda são escassas ou inexistentes.”
“Embora foram apresentados mapas das rotas dos bombardeiros, não havia imagens das instalações nucleares em si, nenhuma prova concreta para sustentar as alegações.”
Para O’Donoghue, “por enquanto ainda há uma indecisão sobre o que realmente foi alcançado” com o ataque às instalações nucleares iranianas.
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‘Consequências duradouras’
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, afirmou que tanto Israel quanto os EUA decidiram “explodir” a diplomacia.
Em uma publicação no X (o antigo Twitter), ele questionou: “Para o Reino Unido e o Alto Representante da União Europeia, é o Irã que deve ‘retornar’ à mesa. Mas como o Irã pode retornar a algo que nunca deixou?”
Araghchi também classificou os ataques dos EUA de “ultrajantes” e afirmou que o Irã está analisando “todas as opções para defender sua soberania”.
“Os eventos desta manhã são ultrajantes e terão consequências duradouras. Todos os membros da ONU devem estar alarmados com esse comportamento extremamente perigoso, ilegal e criminoso”, escreveu ele no X.
Araghchi acrescentou que os EUA “cometeram uma grave violação” da Carta da ONU, como membro do Conselho de Segurança do órgão.
Ao fazer uma declaração pública direto de Istambul, na Turquia, onde participa de negociações diplomáticas, Araghchi acusou Trump de ter traído tanto o Irã quanto o povo americano.
“Embora o presidente Trump tenha sido eleito com a plataforma de pôr fim ao custoso envolvimento dos Estados Unidos em guerras intermináveis em nossa parte do mundo, ele traiu não apenas o Irã ao abusar de nosso compromisso com a diplomacia, mas também enganou seus próprios eleitores ao se submeter à missão de um criminoso de guerra procurado, acostumado a explorar a vida e a riqueza de cidadãos americanos para promover os objetivos do regime israelense”, afirmou ele.
Araghchi foi questionado se o Irã está considerando atacar bases militares americanas na região ou fechar o Estreito de Ormuz — uma estreita rota de navegação na região do Golfo considerada uma das mais importantes do mundo.
O local tem profundidade suficiente para os maiores navios-tanque de petróleo bruto do mundo e é usado pelos principais produtores de combustível do Oriente Médio.
“Há uma variedade de opções disponíveis para nós”, respondeu Araghchi.
O porta-voz da Organização de Energia Atômica do Irã defendeu que o conhecimento do país em energia nuclear “não pode ser destruído”, segundo a agência de notícias IRNA.
Behrouz Kamalvandi disse que a indústria nuclear tem raízes no Irã e “essas raízes não podem ser destruídas”.
“Sofremos danos, mas esta não é a primeira vez que a indústria sofre ataques”, acrescentou ele.
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Novos ataques no Irã e em Israel
No bairro nobre de Ramat Aviv, em Tel Aviv, há grandes pedaços de estilhaços espalhados por uma praça arborizada.
No centro, moradores, seguram animais de estimação e malas, enquanto se misturam às equipes de resgate sob o sol escaldante.
Através das árvores, é possível vislumbrar a devastação deixada pelo bombardeio de mísseis iranianos que aconteceu nas últimas horas.
Essa foi a primeira resposta do Irã ao ataque americano às suas instalações nucleares.
Maquinários pesados trabalham para remover os destroços dos prédios mais atingidos, cujos telhados desabaram e cujas paredes se transformaram em escombros.
O Irã bombardeia cidades israelenses há dez dias.
Nesse meio tempo, a campanha militar de Israel no Irã também não arrefeceu.
Neste domingo, Israel atacou dois locais perto da cidade de Bushehr, informou a Agência de Notícias Fars, afiliada à Guarda Revolucionária Iraniana (IRGC).
Enquanto isso, a agência de notícias Mehr informou que a defesa aérea foi ativada em “alguns locais” na cidade de Yazd, que fica no centro do país.
A Unidade da Guarda Revolucionária Islâmica Al-Ghadir de Yazd afirmou em um comunicado que Israel atacou duas zonas militares na província.
A província de Bushehr é onde está localizada outra usina nuclear.
O órgão de vigilância nuclear da ONU alertou ontem que atingir a usina de Bushehr levaria a “uma liberação muito alta de radioatividade”.
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Alguns apoiadores de Trump criticam ataques ao Irã
Os republicanos — mesmo aqueles da ala mais isolacionista do partido — apoiaram amplamente a decisão do presidente Trump de lançar ataques contra o Irã.
Algumas vozes proeminentes que representam o movimento “Maga” (sigla em inglês para “Faça a América Grande de Novo”), no entanto, têm sido abertamente críticas — um raro sinal de dissidência por parte de alguns dos apoiadores mais próximos de Trump.
“Ele precisa conversar com o Maga”, declarou o ex-estrategista de Trump, Steve Bannon, em seu podcast.
“Há muitos membros do Maga que não estão felizes com isso.”
“Acredito que ele conseguirá o apoio do Maga, de tudo”, acrescentou Bannon. “Mas ele precisa explicar exatamente o que fez e analisar isso.”
Outra aliada de Trump, Marjorie Taylor Greene, escreveu no X ontem à noite que “toda vez que os Estados Unidos estão à beira da grandeza, nos envolvemos em outra guerra estrangeira”.
“Esta não é a nossa luta”, acrescentou ela.
Os democratas, por outro lado, manifestaram-se em grande parte contra a operação. Muitos questionaram se ela seria legal sem a supervisão do Congresso.
“O presidente Trump enganou o país sobre suas intenções, não buscou autorização do Congresso para o uso da força militar e corre o risco de envolver os Estados Unidos em uma guerra potencialmente desastrosa no Oriente Médio”, criticou o líder democrata da Câmara, Hakeem Jeffries, em um comunicado.
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A reação dos países árabes
O Omã, que mediava as negociações nucleares entre Washington e Teerã, condenou veementemente os ataques americanos a instalações nucleares no Irã.
O sultanato do Golfo expressou “profunda preocupação, denúncia e condenação da escalada resultante dos ataques aéreos diretos lançados pelos Estados Unidos”.
A Arábia Saudita, que mantém fortes laços de segurança com os EUA e é um de seus aliados regionais mais próximos, declarou condenar “a violação da soberania do Irã e enfatizou a necessidade de moderação”, conclamando a comunidade internacional “a redobrar os esforços nessas circunstâncias extremamente sensíveis para alcançar uma solução política”.
O Ministério das Relações Exteriores do Catar alertou que as atuais “tensões perigosas levarão a repercussões desastrosas nos níveis regional e internacional”. O país ainda afirmou que “espera que todas as partes exerçam sabedoria e moderação neste momento”.
O Egito alertou sobre “os perigos de a região mergulhar em mais caos e tensão”, enfatizando que “soluções políticas e negociações diplomáticas, e não uma solução militar, são a única saída para a crise”.
Enquanto isso, o presidente libanês, Joseph Aoun, afirmou que “o bombardeio de instalações nucleares iranianas aumenta o medo de uma escalada de tensões que ameaçaria a segurança e a estabilidade em mais de uma região e país”.
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‘Os próximos dias podem ser delicados e desafiadores’, diz presidente de Israel
O presidente de Israel divulgou um comunicado em que classifica o ataque de Donald Trump ao Irã como “histórico”.
Isaac Herzog afirmou que as palavras de Trump demonstram a “profunda e corajosa aliança” entre os EUA e Israel.
Mas ele também alertou que “a campanha não acabou”.
“Os próximos dias podem ser delicados, complexos e desafiadores”, disse ele.
Numa entrevista à BBC, Herzog disse não saber os detalhes, “mas está claro que o programa nuclear iraniano foi substancialmente afetado”.
Ele também foi questionado se Israel solicitou diretamente a Trump que atacasse o Irã.
Herzog respondeu que “decidimos deixar isso para os americanos”, antes de acrescentar que não sabia se os EUA iriam atacar as instalações nucleares do Irã.
“Eu acordei quando aconteceu”, detalhou ele.
Questionado se Israel vai parar de atacar o Irã, Herzog não deu uma resposta direta, apenas declarou que o Irã está disparando mísseis contra território israelense e que “temos que fazer o que for preciso para nos defendermos contra eles”.
“A maneira de fazer isso é, obviamente, lidar com a situação em nível internacional e garantir que haja uma estratégia de saída”, acrescenta.
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O que se sabe sobre instalações nucleares do Irã
Escondida na encosta de uma montanha ao sul de Teerã, a instalação nuclear de Fordow estaria em um subsolo mais profundo do que o Túnel do Canal da Mancha que conecta o Reino Unido e a França.
Fordow foi construída estrategicamente embaixo da montanha justamente para evitar ataques aéreos de adversários militares.
Acredita-se que a instalação subterrânea consista em dois túneis principais que abrigam centrífugas usadas para enriquecer urânio, bem como uma rede de túneis menores.
Algumas das instalações mais sensíveis de Fordow podem estar enterradas ainda mais profundamente, a até 800 metros de profundidade.
A profundidade é muito maior do que a de outro local subterrâneo de enriquecimento de urânio do Irã, em Natanz, que analistas acreditam estar a cerca de 20 metros abaixo da superfície.
No dia 15 de junho, Israel atingiu dezenas de alvos em todo o Irã, danificando a instalação. Especialistas acreditam que ela esteja agora “severamente danificada, se não completamente destruída”.
Já a cidade de Isfahan, terceiro local atingido, segundo o presidente americano, é um importante centro da indústria militar iraniana.
Terceira maior cidade do Irã, Isfahan é um centro de fabricação de drones e mísseis balísticos.
Ela foi alvo de ataques anteriores pelos quais Israel foi responsabilizado.
Em janeiro de 2023, o Irã culpou Israel por um ataque de drone a uma fábrica de munições no centro da cidade. O ataque teria sido realizado usando quadricópteros, que são pequenos drones com quatro hélices.
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O programa nuclear do Irã
O Irã sempre afirmou que seu programa nuclear é totalmente pacífico e que nunca procurou desenvolver uma arma nuclear.
No entanto, uma investigação de uma década realizada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão de vigilância nuclear global, encontrou evidências de que o Irã conduziu “uma série de atividades relevantes para o desenvolvimento de um dispositivo explosivo nuclear” do final da década de 1980 até 2003, quando os projetos conhecidos como “Projeto Amad” foram interrompidos.
O Irã continuou com algumas atividades até 2009 — quando as potências ocidentais revelaram a construção da instalação subterrânea de enriquecimento de Fordow — mas depois disso não houve “nenhuma indicação confiável” de desenvolvimento de armas, concluiu a agência.
Em 2015, o Irã fechou um acordo com seis potências mundiais, segundo o qual aceitou restrições às suas atividades nucleares e permitiu o monitoramento rigoroso pelos inspetores da AIEA em troca de alívio das sanções paralisantes.
Os principais limites abrangiam sua produção de urânio enriquecido, que é usado para fabricar combustível para reatores e também armas nucleares.
Mas Trump abandonou o acordo durante seu primeiro mandato em 2018, dizendo que ele fazia muito pouco para impedir o caminho para uma bomba, e restabeleceu as sanções dos EUA.
O Irã retaliou violando cada vez mais as restrições, principalmente as relacionadas ao enriquecimento.
De acordo com o acordo nuclear, nenhum enriquecimento foi permitido em Fordow por 15 anos. No entanto, em 2021, o Irã voltou a enriquecer urânio com 20% de pureza.
O conselho de governadores da AIEA, formado por 35 países, declarou formalmente que o Irã violou suas obrigações de não proliferação pela primeira vez em 20 anos.
O Irã disse que responderia à resolução estabelecendo uma nova instalação de enriquecimento de urânio em um “local seguro” e substituindo as centrífugas de primeira geração usadas para enriquecer urânio por máquinas mais avançadas, de sexta geração, na usina de enriquecimento de Fordow.
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Como israelenses e iranianos reagiram ao ataque
Num hotel localizado na cidade de Van, na Turquia, a 96 km da fronteira com o Irã, a maioria dos hóspedes é iraniana.
Nas últimas horas, as pessoas ficaram grudadas às telas para receber atualizações, enquanto conversam sobre os ataques dos EUA às instalações nucleares do Irã.
“Estamos muito irritadas”, diz uma hóspede à reportagem da BBC News.
“Donald Trump acha que pode fazer o que quiser”, diz ela, antes de perguntar “por que ninguém conseguiu deter Israel e os EUA”.
Ela chegou de Teerã na manhã de domingo (22/6) para acompanhar a filha, que fará uma viagem ao Canadá.
“Acho que as pessoas estão realmente preocupadas e em pânico, porque não sabem o que vai acontecer no país”, acrescenta a filha.
Já o britânico-israelense Simon King, que sobreviveu aos ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, disse acreditar que o presidente dos EUA fez “uma coisa muito boa pela humanidade”.
“Estou feliz que ele tenha feito o que fez, mesmo que isso possa custar muito em recursos humanos”, acrescentou ele.
Enquanto isso, um morador da cidade de Haifa, no norte de Israel, disse esperar que “este fosse o passo que levaria ao fim da guerra”.
Uma pesquisa recente do Instituto Israelense de Democracia revelou que a grande maioria dos judeus israelenses apoia os ataques de Israel ao Irã, enquanto a maioria dos cidadãos árabes se opõe à ação militar.