O matemático mineiro Jacob Palis, que morreu no dia 7 de maio, no Rio de Janeiro, aos 85 anos, era um homem que gostava de sorrir. Dava a impressão de achar o mundo divertido, parecia constantemente maravilhado com seus mistérios e possibilidades. A alegria e o bom humor combinavam com outras características pessoais marcantes, como a generosidade, o otimismo, a ousadia e o carisma.

Existem matemáticos que brilham pela capacidade de trabalho árduo e concentrado. Outros se destacam devido à habilidade para atacar um problema por uma via original, combinando ferramentas de diversas áreas. Há ainda aqueles que conseguem modelar objetos complexos na mente, mudando a maneira como são compreendidos.

Palis tinha um pouco de todas essas qualidades, mas seus trabalhos se distinguem, acima de tudo, por apontar direções, definir caminhos, descortinar grandes panoramas que, depois de bem estabelecidos por ele, pudessem ser explorados e expandidos por outros. É o que garante seu lugar para sempre no panteão nacional da disciplina, escreve Fernando Tadeu Moraes, na edição deste mês da piauí.

 A distinção não se deve apenas à sua extraordinária obra intelectual, reconhecida por inúmeros prêmios e honrarias internacionais. Palis foi também um formador incansável de novos pesquisadores e uma liderança científica transformadora, alguém que deixou sua marca nos lugares por que passou e nas pessoas com quem cruzou.

Essas três dimensões de sua vida – o pesquisador, o formador e o líder – se intersectam no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), fundado em 1952 no Rio de Janeiro e cuja trajetória de sucesso deve muito a ele.

Palis começou a frequentar o Impa no início dos anos 1960, quando ainda era estudante de engenharia. Em 1964, embarcou para a Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, para fazer o doutorado sob a orientação do matemático Stephen Smale, que dois anos depois seria agraciado com a Medalha Fields, a maior honraria da profissão.

Concluiu o doutorado em apenas três anos. Ao longo desse período, escreveu importantes trabalhos na área de sistemas dinâmicos em colaboração com o orientador americano. Palis tinha todas as credenciais para ficar nos Estados Unidos e construir uma carreira bem-sucedida por lá. Mas decidiu voltar em 1968. “Foi um ato de coragem e autoconfiança”, diz Marcelo Viana, diretor-geral do Impa. “Àquela altura os Estados Unidos já eram uma potência científica, e o sistema deles oferecia excelentes vias profissionais. No Brasil, por sua vez, a pesquisa matemática engatinhava.”

De volta ao Rio, promoveu em 1971 o Simpósio Internacional de Sistemas Dinâmicos, que reuniu boa parte da elite mundial da matemática, inclusive Smale e o francês René Thom (1923-2002), que também ganhara a Medalha Fields. “O encontro visava atrair a atenção externa e interna para essa área da matemática”, contou Palis numa entrevista. “E conseguiu, foi sensacional.”

O Brasil entrava enfim no mapa da matemática mundial.

Assinantes da revista podem ler a íntegra do texto neste link.





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