Vicente Serejo
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Quando li a notícia e o livro chegou, tive a mesma sensação daquela tarde de junho de 2009, numa sala da editora Abril, São Paulo, quando após cumprir a pequena fila de poucos privilegiados, fiquei diante de Gay Talese. Ele de branco, paletó, gravata e chapéu, em perfeita harmonia. Agora, aos 90 anos, faz chegar ao mundo seu novo livro que pode ser o último, numa edição, como sempre, da Companhia das Letras: ‘Bartleby e Eu’, dedicado ao sonho americano pelas ruas de New York.
Foi milagre e aqui todo milagre tem explicação. Foi assim: Paulinho Araújo, seridoense do Totoró, ilha da infância nas terras dos Currais Novos, foi da redação, em São Paulo, das publicações educativas da Abril, cargo que ocupou depois de ter sido um dos primeiros colocados. Já estava de volta a Natal e liga para dizer que havia recebido o convite da direção para um encontro pessoal com Gay Talese, mas não poderia viajar. E perguntou se interessava a mim e a Rejane. Ele credenciaria.
Fomos. O encontro seria em um dos andares da enorme sede da Abril e os nossos nomes já estavam na recepção. Ele entra ao lado dessa amiga de Paulinho, senta diante do pequeno auditório de uns quarenta convidados, se tanto. É apresentado em português e passa a falar sobre o livro que vinha lançar no Brasil: ‘Vida de Escritor’ em capítulos numerados ao longo de quinhentas páginas. Sua dedicatória é rápida, mas afetuosa, numa tradução livre: “Para Rejane e Vicente, o meu melhor”.
Levamos nosso exemplar e, por sorte, o livro estava à venda na sala ao lado. Adquiri mais um exemplar para trazê-lo como gratidão a Paulinho. No novo livro, agora lançado no Brasil, o ‘Bartleby e Eu’, é mais uma revelação do grande jornalista, conciso e elegante, dono de reportagens que são referências para o mundo. Como a grande reportagem que fez com Frank Sinatra, sem conseguir ser recebido, ouvindo a mesma desculpa dos assessores: “Frank Sinatra está resfriado”. É um clássico.
Há sessenta anos, Talese escreve, percorrendo as ruas da cidade: “New York é uma cidade de coisas despercebidas”, adverte. Na verdade, é a partir daí, da descoberta da riqueza humana que o jornalismo não percebe que Talese, com olho de grande repórter, observa e que chama ‘personagens secundários e através se desenrola a história épica da cidade”. Com ‘Bartleby e Eu’, escrito aos 90 anos, revisita seus textos, suas descobertas anônimas, como um novo Bartleby de Herman Melville.
Talese, como reconhecem e proclamam os grandes críticos do seu país e do mundo, é o grande narrador das vidas comuns. Como está na resenha do livro, foi buscar a inspiração em Bartleby, o escriturário de um escritório de advocacia que se negava a aceitar realizar qualquer tarefa, mesmo a mais simples e até para melhorar sua própria vida. Toda vez que ouvia uma sugestão, dava a mesma resposta: “Prefiro não fazer’. Talese foi sempre o mesmo e por isso é um gênio. Era só e até terça.
PALCO
LUTA – Vem de uma fonte que conhece o chão da política: “O prefeito Alysson Bezerra precisa avaliar melhor a sua força em Natal. Sozinho ele corre o risco de uma derrota maior que ele pensa”.
ENGANO – Para a mesma fonte, o favoritismo das pesquisas é muito bom, mas não basta para armar uma luta do porte de uma campanha para governador. Mas é possível e tentar um dever da política.
TAMPA – Nada vaza, até agora, do encontro de Walter Alves e Carlos Eduardo Alves. Nem se ficou acertado um novo encontro. E se o grupo Alves ficará ausente de 2026, o que sepultaria o aluizismo.
ESTILO – Do Lobo Guará sobre o estilo falsamente solidário que sobrevive a todos os novos poderosos da política: “O tipo mais peçonhento é aquele que come pelas beiradas até engolir de vez”.
ESTAÇÕES – Natal ganha mais um poeta: Jorge Bouth que lança seu livro ‘Diversas Estações na Poesia’, edição Provérbio Editora. E quem recomenda, com entusiasmo, é o editor Fernando Raine.
HISTÓRIA – No Brasil, ‘A Queda de Robespierre, as 24 horas que definiram o rumo da Revolução Francesa’. Uma forte virada nas verdades lançadas pelo norte-americano Colin Jones em 500 páginas.
POESIA – Da poetisa Helen Ingersoll, tão bem resgata pelo talento de Claudio Galvão, versos do seu poema ‘Canto do amor na Selva’: “Eu buscarei a selva / que me acena com os braços de suas árvores”.
FERIDA – Na ânsia da impunidade os deputados nem lembravam da verdade popular que há séculos vive na boca do povo como uma praga escondida nos panos do medo: “Quem não deve, não teme!”.
CAMARIM
PRESENÇA – Câmara Cascudo tem cinco dos seus livros citados no grande ensaio que acaba de ser lançado pelo escritor Gilberto Vasconcelos – ‘Sol Oswald’. Uma edição da Insular, de Florianópolis. No subtítulo, Gilberto explica o eixo central do ensaio: “A Ecologia Anticapitalista do Modernismo”.
REPÚDIO – Poucas vezes, desde quando o marechal Deodoro da Fonseca, com sua espada em riste, proclamou a República, em 1889, o Poder Legislativo conseguiu gerar um repúdio tão forte quanto o da aprovação da PEC da blindagem. Com o voto de seis dos oito nomes da nossa bancada federal.
SENTENÇA – De Kennth Rogoff, ex-economista-chefe do FMI e professor de Harvard ao condenar qualquer gesto de rendição diante das diatribes de Donald Trump, como quem avisa aos que ainda parecem duvidar do que cairá sobre o mundo, na páginas amarelas de Veja: “Não há paz com Trump”.
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