Vicente Serejo
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Parece conversa de cronista sem assunto. Não é. No feitio da crônica, o perigo é faltar talento, o que, de resto, é o que sempre acontece aqui. Rubem Braga, diziam os seus leitores mais célebres, quando sem tema, era seu instante de genialidade. Esse nariz de cera, tão caído de moda, é para dizer que tudo mudou neste terceiro milênio. No amor, por exemplo, pode até não ter mudado o desejo da carne na sua força biológica, mas, o casamento, dado que é um complexo cultural, mudou e muito.
Acaba de sair um estudo do Beyond Tradition que revela os novos traços que mapeiam os contornos da decisão de casar. Nos homens e nas mulheres. Começa que não mais perdura a velha tese de que a mulher nasce para casar e ter filhos. Hoje pode decidir casar ou não. Ter filhos ou não. O poder de decisão é dela. Ou o pacto, sem mais imposições. E acabou essa história de solteirona ou solteirão, palavras em estado de dicionário, caídas no pobre desuso, já sem força de expressividade.
No estudo da Beyond, sai ‘casar’, e entra ‘match perfeito’. E para ser perfeito, há de cumprir as novas regras: “Valorização do crescimento pessoal, profissional, autonomia e autoconhecimento em relacionamentos”. Ou assim, ou tem tudo para fracassar no “cenário de crises econômicas e de instabilidade emocional”. O estudo demonstra que nas mulheres e nos homens cresce o interesse por modelos que ofereçam as novas características que tornam a vida a dois sólida, ou, o ‘match perfeito’.
Tem mais. O modelo ideal de homem, agora chamado ‘Sugar Daddy’, há de ser “experiente, confiante e bem sucedido”. A mulher, ou ‘Sugar Baby’, precisa ter as mesmas características, traço garantido para a conquista de metas. A composição do casamento no terceiro milênio, para ser forte e duradoura, precisa ir além da “conexão afetiva, mas também segurança emocional e estabilidade financeira, dois pilares que se tornaram prioritários nesses tempos de ansiedades e relações líquidas”.
No ‘match perfeito’ acabou, por ineficiência e falta de garantia, a velha fórmula do “amor à primeira vista ou em sintonia espontânea”. O estudo revela: a decisão de casar, agora, exige “vínculos baseados em cumplicidade e honestidade”. E mais: “Isso se alinha a tendências recentes de prática de eficiência desde o início”. E tudo por uma constatação ainda mais dura: o declínio do amor romântico. O terceiro milênio inaugurou um novo modelo de amor, a partir da constatação: nada é mais eterno.
Ora, Senhor Redator, se o amor, depois de dois mil anos, ficou assim, cerebral; se nele não cabe mais a paixão romântica, arrebatadora a partir de um simples olhar, o que farão os pobres românticos? Como viverão sem o desejo sublime? E os de ontem, os que um dia, só por desventura, descasarem, como casarão outra vez, se não há mais as almas gêmeas? Como fica aquela verdade tão antiga dos romances de que todo grande amor é clandestino, se agora exige uma declaração de renda?
PALCO
SERÁ? – A política é um chão fértil para o plantio e a colheita de intrigas. A mais recente, já nas redes ditas sociais, teria sido um pedido da governadora Fátima Bezerra direto ao presidente Lula.
COMO? – Teria chegado aos ouvidos Zenaide, segundo leu o Lobo Guará, um pedido de Fátima para fosse fechada a torneira das emendas da senadora. Zenaide estaria forte nas bases do interior.
VERGONHA – Quem quiser ter uma ideia do nosso desprezo pela memória dos nossos valores é só visitar o túmulo de Dr. Varela Santiago no Cemitério do Alecrim. Destruído por absoluto abandono.
VALOR – Varela Santiago é nosso maior benfeitor. Fundou o Hospital Infantil, a escola para os filhos dos leprosos; presidiu a Liga de Ensino e foi um dos incentivadores do Instituto Histórico.
DATA – Grace Gosson, presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do RN, vai celebrar 45 anos da instituição. Será no dia 28, no Versailles, com um café da manhã, às 8h30.
MELHOR – Gleydson Batalha reúne os amigos, hoje, no restaurante Tuca, 18h30 (Rua professor Olavo Montenegro, 3017), para lançar o seu programa ‘O Melhor do Dia’, na tevê Bandeirantes.
POESIA – Da poetisa de Santos-SP, Natasha Felix, do seu livro ‘Inferninho’, a confissão humana de quem deixa as perdas pelo caminho: “Para chegar até aqui / foi preciso abandonar toda ternura”.
JOGO – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, de olhos nos sabidos que assaltam a boa-fé dos seus eleitores: “Na política, nunca tem idiotas. Eles sobrevivem da idiotice dos outros”.
CAMARIM
ABUSO – A senhora vereadora Brisa Bracchi tem todo o direito de festejar ou repudiar quem quer que seja, desde que não o faça com dinheiro público. Muito menos julgar a opinião pública como formada por idiotas. A ponto de praticar a afronta da desculpa de perseguição política ou ideológica.
PIOR – É correto o pedido de cassação do mandato da vereadora protocolado, ontem, pelo vereador Matheus Faustino diante da violação de preceito constitucional, garantido o direito de defesa. Mas, sabe-se do velho fantasma do corporativismo que vive nos gabinetes para que tudo acabe em pizza.
FESTA – Amanhã, 21, com início marcado para às 19h, a festa dos quarenta anos da Academia de Medicina do Rio Grande do Norte. Será nos salões do Chaplin Recepções. O presidente da Casa, o médico Gutemberg Gurgel, convida os amigos da instituição para festejarem suas quatro décadas.
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