Em 1925, o gaúcho Apparício Torelly aceitou o convite de Mário Rodrigues, pai de Nelson Rodrigues, para assinar uma coluna de humor no jornal A Manhã. Seu sucesso foi tão grande que gerou um jornal próprio. Apporelly bateu algum recorde mundial de trocadilho ao batizar seu novo jornal. Satirizou o nome A Manhã tirando apenas… um til. E criou A Manha. “Apesar da paródia, Mário Rodrigues desejaria sucesso ao novo semanário humorístico. Provavelmente, ele já conhecia a principal regra do humor: ficar puto é pior”, escrevem Arnaldo Blanco e Renato Terra na edição deste mês da piauí. “A Manha revelava que a cobertura jornalística naquela época já era uma piada. E as piadas de Apporelly acabavam revelando mais do que a cobertura jornalística.”
Durante a Revolução de 30, o gaúcho adotou um título de nobreza: Barão de Itararé, em referência a uma batalha que não houve na cidade paulista de Itararé. A chegada de Getúlio ao poder levaria a uma série de conflitos do presidente com o humorista.
Quando o presidente se aproximou dos integralistas, o Barão de Itararé aperfeiçoou o lema do grupo – “Deus, Pátria e Família” –, afanado do fascismo italiano. Aperfeiçoou o slogan acrescentando só uma letra: “Adeus, Pátria e Família”.
Em 1934, uma publicação do Jornal do Povo, de cujo conselho editorial o Barão de Itararé fazia parte, irritou a polícia política do Getúlio Vargas: um folhetim relembrando a Revolta da Chibata, liderada por João Cândido, que lutou contra as práticas escravagistas na Marinha.
Na manhã de 19 de outubro, o Barão foi sequestrado, espancado, ameaçado e teve seus cabelos cortados. Libertado, o humorista agradeceu por lhe terem poupado o gasto com o barbeiro e reagiu à agressão com a única arma que possuía. Depois de tanto apanhar, pendurou na porta da sua sala na redação a seguinte placa: “Entre sem bater.”
Os militantes de esquerda, que agitavam sindicatos, associações juvenis e o meio artístico, finalmente se uniram em uma frente chamada Aliança Nacional Libertadora (ANL). Algumas reuniões para fundar e organizar essa aliança aconteceram na redação de A Manha. Em julho de 1935, Getúlio mandou fechar a sede da ALN.
Em 23 de novembro do mesmo ano, um conjunto de levantes armados transformou o Brasil numa praça de guerra. Foi a Intentona Comunista. Mas o levante se revelou um fiasco. Foram presos os líderes, como Luís Carlos Prestes e Olga Benário, e intelectuais, como Graciliano Ramos. O Barão também acabou em cana.
Antes de ir para a mesma prisão que Graciliano, o Barão de Itararé ficou detido no navio-presídio Pedro I, que ficava ancorado na Baía de Guanabara. A polícia fazia vistorias constantes na embarcação. Numa dessas vistorias, o humorista quase matou os outros presos de ataque cardíaco quando do nada resolveu gritar “Viva a revolução”. Os guardas já estavam se aproximando dos detentos com seus cassetetes quando o Barão completou “… de 30!”. Sem saber, ele pode ter inventado ali a pegadinha.
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