No começo de 2023, pouco depois de completar 79 anos, o fotógrafo Sebastião Salgado se defrontava com um dilema: iniciar uma nova empreitada de fôlego, que lhe exigiria muito esforço físico e emocional, ou mergulhar em seu extenso arquivo para organizar imagens e tirar dali exposições inéditas.
Estava mais tentado a virar editor do acervo, mas concluiu que ainda devia para si mesmo uma série sobre o Instituto Terra – o projeto de restauração ambiental que fundou há quase três décadas na fazenda onde cresceu, na cidade mineira de Aimorés, a partir de uma ideia da arquiteta e produtora Lélia Wanick Salgado, com quem se casou em 1967.
De início, o Instituto Terra abrangia somente os 710 hectares da antiga fazenda. A propriedade, que pertencia à família de Salgado, fica na Bacia Hidrográfica do Rio Doce e havia se degradado por causa da pecuária tradicional. O instituto a reflorestou e, depois, incorporou quatro propriedades vizinhas, que agora se encontram em diferentes estágios de recuperação.
Hoje, o Terra ocupa mais de 2,3 mil hectares. Para fotografar aqueles morros, só voando. Por isso, Salgado ligou para Fernando Meirelles, diretor de Cidade de Deus. “Não éramos amigos íntimos, mas nos falávamos com regularidade. Ele queria ajuda, pois nunca tinha mexido com drone. Respondi sem pensar: ‘Você precisa do Alexandre Ermel’”, recorda o cineasta em um texto escrito para a piauí deste mês.
Salgado e Ermel reservaram doze dias de trabalho em dezembro de 2023 para a tarefa. “Fui até o Instituto Terra com a intenção de apresentá-los pessoalmente”, conta Meirelles. “Eles, porém, já se mostravam tão entrosados que só servi para carregar mochilas e equipamentos. Alê pilotava o drone, Tião movimentava a câmera com um joystick, acionava o disparador e se sentia em casa quando ouvia o clique que o colega teve o cuidado de programar para soar como o da velha Canon.”
Antes de sua morte, em 23 de maio passado, aos 81 anos, Salgado pré-selecionara duzentas das 4 mil imagens captadas no Terra com Ermel. A piauí publica na edição deste mês uma parte dessas imagens inéditas, que Fernando Meirelles define como “a síntese de uma vida extraordinária”.
Assinantes da revista podem ver as imagens inéditas e ler a íntegra do texto neste link.