Desde seu primeiro álbum, Um corpo no mundo, lançado em 2017, a cantora baiana Luedji Luna abriu um espaço relevante na cena musical brasileira, especialmente devido ao sucesso das canções Banho de folhas e Acalanto. Seguiram-se outros dois álbuns – e a sua carreira disparou.
Ela fez turnês internacionais, participou de festivais mundo afora, foi indicada ao Grammy Latino, fez parcerias com artistas brasileiros e internacionais, participou de programas de tevê e interpretou a música de abertura de uma novela das nove da Rede Globo (no remake de Renascer, cantou Lua soberana com Xenia França). Em abril de 2023, subiu ao palco ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Ivete Sangalo para se apresentar no Festival da Cidade, que comemorou os 474 anos de Salvador.
Neste ano, com uma diferença de apenas dezessete dias, lançou os álbuns Um mar pra cada um (em maio) e Antes que a Terra acabe (em junho). Com seus múltiplos interesses, chegou até o cinema. Ela é uma das atrizes do novo filme de Anna Muylaert, A melhor mãe do mundo, cuja estreia está prevista para este mês de agosto.
O longa-metragem conta a história de Gal, uma catadora que abandona sua casa com os dois filhos pequenos para fugir da violência do marido. Cogitada para interpretar a protagonista, Luedji chegou a fazer um teste para o papel. Mas Muylaert preferiu que ela interpretasse outra personagem, Valdete, a prima da protagonista. O papel de Gal ficou com a atriz Shirley Cruz, que contracena com Seu Jorge, o marido violento. “Anna achou que eu deveria estar no filme de algum jeito. Foi uma experiência boa. Ela me deixou muito livre para improvisar”, conta a cantora a Emily Almeida na edição deste mês da piauí.
Entre todas as suas atividades – cantora, compositora, atriz e até executiva –, Luedji prefere a de compositora. “Eu sempre coloquei a compositora na frente, porque sempre soube da importância de quebrar esse paradigma do silêncio”, diz. Em um meio no qual a figura da mulher negra costuma aparecer apenas como intérprete potente ou presença cênica, compor, para ela, equivale a afirmar o lugar de autoria, de linguagem e de pensamento.
Ela também tem pensado com mais cuidado sobre como quer aparecer para o público – e, sobretudo, quando não quer aparecer. “Nessa era atual, quero prezar muito pelo conforto. Quero prezar muito pela fluidez”, diz. Isso inclui uma estética mais simples, menos construída, mais parecida com a do início de sua carreira. O desejo de se mostrar mais natural e se expor menos está nos seus planos. “Eu já entrego muita coisa para a música e não quero entregar a minha imagem também.” É uma atitude incomum no meio artístico, em que a exibição constante nas redes sociais e em eventos tem sido tratada como exigência. “Se eu não aparecer em tal festa, em tal evento, em tal revista, eu sumo?” E ela mesma responde: “Não, eu não vou sumir, porque é a minha música que me leva.”
Por isso mesmo, ela tem buscado uma música que sobreviva às tendências e ganhe em permanência. “Quero que a minha música seja relevante, de forma que eu não precise nem cantar, se eu não quiser. Nem fazer show, nem aparecer na tevê”, diz.
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