a Guerra de Espadas segue como um símbolo de resistência cultural para muitos, mas também como um desafio legal para o Estado da Bahia e o Brasil.
A tradicional Guerra de Espadas, manifestação cultural típica das festas juninas no Recôncavo Baiano, como nas cidades de Senhor do Bonfim, Cruz das Almas, Muritiba e Governador Mangabeira, além de Estância em Sergipe, tornou-se um tema polêmico nos últimos anos. O que antes era um espetáculo de luz e pólvora, atrativo para moradores e turistas, agora enfrenta a proibição por questões legais e de segurança pública.
O que é a Guerra de Espadas no São João?
A Guerra de Espadas consiste no lançamento de artefatos explosivos caseiros, conhecidos como “espadas”, em meio às ruas durante as festas juninas. Diferente dos tradicionais fogos de artifício, as espadas são feitas com bambu, pólvora e limalha de ferro, criando um efeito visual e sonoro de grande impacto.
O evento, que teve início na década de 1930, era visto por muitos como uma “brincadeira de rua” e um símbolo de identidade cultural local. Na década de 1940, a prática era restrita a ambientes familiares e domésticos. Já entre os anos 60 e 70, o evento ganhou visibilidade, atraindo um público maior. Nos anos 80, a Guerra de Espadas se consolidou como um verdadeiro espetáculo popular, com milhares de espectadores.
Proibição e Penalidades Legais
Desde 2017, fabricar, portar ou soltar espadas é considerado crime no Brasil, com base na Lei de Explosivos (Lei nº 10.826/2003 – Estatuto do Desarmamento), e também enquadrado no artigo 16 da Lei de Crimes Hediondos, quando envolve artefatos de fabricação caseira com alto potencial destrutivo.
A pena para quem for flagrado fabricando ou utilizando espadas pode variar de 3 a 6 anos de reclusão, além de multa. A decisão de proibir foi baseada em laudos técnicos de órgãos de segurança, que apontaram os riscos de acidentes, queimaduras graves, danos ao patrimônio público e privado, além de relatos de atendimentos hospitalares durante os festejos.
A Justiça da Bahia, com apoio do Ministério Público Estadual (MP-BA), tem intensificado as fiscalizações. Ações policiais são comuns nos meses de junho, com apreensão de espadas, mandados de busca e prisão de envolvidos na fabricação clandestina.
Debate: Tradição x Segurança Pública
Apesar da proibição, o tema continua gerando debates acalorados. Defensores da prática alegam que a Guerra de Espadas é patrimônio imaterial da cultura nordestina, com forte valor histórico e afetivo para as comunidades locais.
Em Senhor do Bonfim, a Associação Cultural de Espadeiros chegou a solicitar o reconhecimento oficial da prática como bem cultural, na tentativa de preservar a tradição e buscar regulamentação segura. Entretanto, até o momento, o pleito não avançou nos órgãos de patrimônio como o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Alternativas e Projetos de Lei

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Nos últimos anos, alguns grupos vêm propondo alternativas, como a criação de áreas controladas para a prática, com normas de segurança e responsabilidade técnica. Existem também projetos de lei em discussão na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) para discutir a regulamentação, mas nenhum foi aprovado até agora.
Enquanto isso, a recomendação oficial das autoridades é de que as pessoas busquem outras formas de celebrar o São João, como os tradicionais arraiais, shows musicais e o uso de fogos de artifício regulamentados, com selo de segurança.
Portanto, a Guerra de Espadas segue como um símbolo de resistência cultural para muitos, mas também como um desafio legal para o Estado da Bahia e o Brasil. Afinal, enquanto a regulamentação não avança, a prática permanece proibida, e as autoridades reforçam que a segurança da população deve estar sempre em primeiro lugar.
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