A nova rodada de pesquisa Quaest divulgada nesta quinta-feira (17) mostrou que Lula lidera todos os cenários simulados de segundo turno das eleições de 2026 e ampliou o apoio à sua eventual candidatura, em meio a um cenário de tensão diplomática com os Estados Unidos.
De acordo com o levantamento, realizado entre os dias 10 e 14 de julho, Lula venceria numericamente todos os adversários testados.
Contra Jair Bolsonaro (PL), ainda o nome mais competitivo da direita apesar de estar inelegível, o petista aparece com 43% das intenções de voto, contra 37% do ex-presidente, uma vantagem de seis pontos percentuais. Em maio, ambos estavam empatados em 41%. O avanço sinaliza um cenário positivo para Lula.
O segundo nome mais competitivo do campo conservador, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também perderia para Lula. Neste cenário, o presidente soma 41%, contra 37% do governador de São Paulo. Embora os dois empatem numericamente dentro da margem de erro de dois pontos percentuais, Lula mantém a dianteira.
O atual presidente também venceria outros postulantes testados, como Michelle Bolsonaro (PL), Ratinho Junior (PSD) e Eduardo Leite (PSD), que obtiveram 36%, cada, Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado (União Brasil) e o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que receberam 33% das intenções de voto.
Contra todos eles, Lula passou dos 40% e alcançou o teto de 43% contra os três representantes da família Bolsonaro, o que indica uma vantagem do petista contra o clã do ex-presidente. Diante dos outros, Lula fez 41% e 42%.
Esse resultado vem na esteira da tarifação dos produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, apoiada pelos bolsonaristas mais rígidos e rechaçada por Lula, que iniciou uma política de nacionalismo e defesa da soberania.
A resposta firme à medida americana parece ter surtido efeito. Segundo o próprio instituto Quaest divulgou na última quarta-feira (16), a desaprovação ao governo Lula recuou neste período, especialmente entre eleitores de centro e centro-direita que não se identificam com o extremismo bolsonarista.
Candidatura à reeleição ganha fôlego após meses de desgaste
Outro dado relevante do levantamento é o crescimento do apoio à candidatura de Lula para um quarto mandato. Após sucessivas quedas nos últimos meses, a pesquisa de julho mostra uma reversão dessa tendência: 38% dos eleitores afirmam que gostariam de vê-lo disputando a reeleição, contra 32% em maio — um aumento de seis pontos percentuais.
Ao mesmo tempo, a rejeição à sua candidatura caiu de 66% para 58%, uma queda de oito pontos que interrompe uma sequência de crescimento da desaprovação iniciada ainda em dezembro de 2024. Trata-se da maior queda nesse indicador desde o início da série histórica da Quaest.
Um ponto que chama a atenção é o desempenho de Lula entre eleitores que se consideram de direita, mas que não se identificam com o bolsonarismo. Nesse grupo, o apoio à candidatura do petista dobrou de 5% para 10%. A rejeição também caiu, passando de 95% para 88%.
A postura de Lula frente às tarifas impostas por Trump foi vista como uma defesa do interesse nacional, o que ampliou sua margem de diálogo com setores críticos ao PT.
Direita desorganizada e sem herdeiro claro de Bolsonaro
Se Lula colhe bons resultados nas pesquisas, o campo da direita aparece estagnado. A Quaest também aferiu a percepção dos eleitores sobre os rumos do bolsonarismo, e o resultado evidencia uma crise de sucessão.
Embora ainda apareça como o adversário mais forte de Lula, Jair Bolsonaro está inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas continua no centro do debate. Para 62% dos entrevistados, o ex-presidente deveria abrir mão da candidatura e apoiar outro nome. O número é alto, ainda que tenha recuado três pontos desde maio.
A pesquisa mostra também que nenhum dos possíveis substitutos de Bolsonaro conseguiu se consolidar. Tarcísio de Freitas aparece como o principal nome, com 15% das menções, dois pontos a menos que na pesquisa anterior. Michelle Bolsonaro, antes vista como aposta para herdar o capital político do marido, caiu três pontos e agora tem 13%.
Ratinho Junior (PSD), governador do Paraná, soma 9%. O deputado Eduardo Bolsonaro, por sua vez, teve um crescimento expressivo, passando de 4% para 8%, impulsionado por sua atuação na defesa das tarifas americanas. A base bolsonarista mais radical parece ter reagido positivamente à postura agressiva do filho do ex-presidente em relação à política externa.
Entretanto, o crescimento de Eduardo é visto com ceticismo por analistas. Ele tem alta rejeição fora da bolha bolsonarista e enfrenta resistências até mesmo dentro do próprio campo conservador. Enquanto isso, outros nomes como Pablo Marçal, Eduardo Leite, Romeu Zema e Ronaldo Caiado figuram com desempenho modesto na pesquisa.
O resultado geral aponta que, ao contrário de 2018 e 2022, quando o bolsonarismo mobilizou o campo conservador de forma unificada, a direita chega ao ciclo de 2026 fragmentada, sem uma liderança clara e com dificuldade de oferecer uma alternativa competitiva ante a ausência de Jair Bolsonaro no pleito.
A pesquisa Genial Quaest foi realizada presencialmente entre os dias 10 e 14 de julho, em 120 municípios do país. Foram ouvidas 2.004 pessoas com 16 anos ou mais. A margem de erro é de dois pontos percentuais, com nível de confiança de 95%.