Nesta segunda-feira, 11 de agosto, é celebrado o Dia do Estudante, uma data dedicada a reconhecer o papel fundamental dos jovens na construção do futuro. Porém, dentro das escolas, nem sempre o ambiente é acolhedor e seguro para todos. O bullying ainda é uma realidade que afeta milhares de estudantes no Brasil, causando impactos profundos na saúde mental e no desenvolvimento emocional.
A psicoterapeuta infantil Arícia Gusmão alerta que o bullying no ambiente escolar afeta a formação social e educacional de crianças e adolescentes, causando impactos psicológicos e emocionais que vão desde a queda de rendimento escolar, alterações de sono e apetite, até mudanças na autoestima. “A baixa autoestima em estudantes que sofrem bullying pode variar desde o ponto de vista físico, assim como ao ponto de não se sentirem capazes de algo, com sensações de medo constante e até o isolamento social”, explica.
O que caracteriza o bullying é o seu caráter repetitivo e a desigualdade entre quem faz e quem sofre, diferente de um conflito comum, em que as pessoas envolvidas estão “em pé de igualdade” para trocar argumentos ou até brigas.
“É importante a gente ter em mente sempre que o bullying e o cyberbullying são violências”, alerta Arícia. Ela explica a diferenciação entre bullying convencional, que se dá de forma presencial, e o cyberbullying, que acontece de forma virtual, e muitas vezes impossibilita o conhecimento do rosto do agressor.
Para a família, a psicóloga alerta que os sinais de que o jovem está sofrendo bullying estão nas mudanças de comportamento e humor. “Você vê que a criança está mais tristinha, mais cabisbaixa, evitando ir para a escola e estar com os amigos, ou aquela criança que está mais agitada em casa”, adverte ela, enfatizando a importância da conexão entre pais e filhos, para que assim seja possível perceber e dialogar sobre esses comportamentos.
Apesar de muito discutida nos cenários educacionais, Arícia Gusmão explica que, quando não devidamente combatido e tratado, o bullying pode levar os jovens agredidos a desenvolver casos psicológicos clínicos que podem se prolongar pela vida adulta.
“Trazendo uma perspectiva a longo prazo, podemos estar diante de casos em que, quando adultos, jovens desenvolvem estresse pós-traumático. Quando essa ferida causada pelas agressões fica aberta e não é cuidada, podemos sim encontrar uma pessoa num padrão mais depressivo e/ou mais ansioso”, alerta a psicóloga sobre a importância do cuidado.
Para que seja possível ser realizado o devido cuidado com esse jovem, a psicóloga destaca que o ponto principal é a conexão entre cuidadores e essas crianças e adolescentes. “A partir da identificação dos sinais, é importante que seja conversado com a escola em primeiro lugar e que se tente trabalhar isso em parceria com a escola”, alerta.
O papel da escola na identificação e no enfrentamento do bullying
A psicóloga conta que a ação da escola diante de situações de bullying costumam variar de caso a caso, mas adverte que são as escolas que precisam estar atentas com a exposição do alvo e do autor. “Muito se olha para o alvo, mas é preciso compreender que o autor também precisa de cuidados, e essa compreensão é um grande desafio para as escolas”, explica.
Diante dos casos e suas repercussões, as escolas precisam manejar com cuidado as informações sobre os alunos envolvidos, para que a situação seja compreendida com o cuidado que precisa.
Arícia destaca que para que os casos sejam reduzidos, é necessário o debate e conscientização acerca do quadro e suas consequências para o futuro desses jovens. “Precisamos esclarecer e diferenciar o bullying do conflito”, diz, uma vez que o bullying é caracterizado pela agressão repetitiva.
“É importante que tenhamos rodas de conversa, materiais informativos do que é o bullying, principalmente para que seja possível essa diferenciação. E essa conscientização precisa acontecer entre todos relacionados ao ambiente escolar, desde o porteiro até ao diretor da escola”, enfatiza.
A psicóloga também destaca a importância da existência de canais abertos entre os estudantes e os professores, para que se sintam confortáveis para compartilhar os episódios de agressão que vivem. “É importante que a escola abra canais para que os alunos possam falar quando sentirem que estão sendo vítimas de uma violência”, destaca Arícia.
A atuação das escolas no combate ao bullying
A psicóloga Arícia Gusmão adverte ser função das escolas atuar diretamente no processo de identificação e combate aos casos de bullying nas escolas, local onde destaca ser um dever a proteção destas crianças e adolescentes.
“É dever da escola, pelas leis que nós temos no nosso país, proteger essa criança ou esse adolescente. A escola precisa se implicar, independente de qualquer coisa, no processo, seja com ações diretas ou orientações à família, mas a escola precisa se implicar. Mesmo que o bullying ocorra em redes sociais, no condomínio, na rua, mas a escola tem um papel de proteção, sobre aquelas crianças e adolescentes que ali frequentam”, alerta.
Na última sexta-feira (8), o Governo do Rio Grande do Norte sancionou a Lei nº 12.386, que estabelece diretrizes para a prevenção e o combate ao bullying e o cyberbullying em escolas públicas e particulares.
A nova lei estadual tem como metas promover campanhas educativas direcionadas à comunidade escolar e associações, visando aumentar a conscientização sobre o bullying, fomentar a criação de ambientes seguros e inclusivos, além de capacitar educadores, pais e estudantes para reconhecer e prevenir essas formas de violência.
“No combate ao bullying, a escola e a família precisam caminhar lado a lado. A escola tem que ofertar espaços de escuta, de acolhimento para as crianças, e de esclarecimento, mas a família tem um compromisso, enquanto ‘primeiro ninho’ e com uma forte influência na formação desse sujeito, nos valores e no respeito”, explica a psicóloga sobre a importância do contato entre a escola e família.