A crise da saúde mental no Brasil tem gênero e as estatísticas escancaram uma realidade alarmante. Segundo a delegada e pesquisadora em violência contra a mulher, a delegada Dra. Gabriela Garrido, 64% dos afastamentos do trabalho por transtornos mentais são de mulheres, um número que revela muito mais do que dados frios: expõe uma tragédia social que precisa ser enfrentada com urgência.
Por trás desses afastamentos há um conjunto de fatores estruturais que impactam diretamente a saúde mental feminina. Mulheres brasileiras ainda enfrentam jornadas múltiplas, muitas vezes invisibilizadas. Além da atividade profissional, recai sobre elas a responsabilidade desproporcional pelas tarefas domésticas e o cuidado com filhos, idosos e doentes, um trabalho não remunerado que é essencial, mas desvalorizado.
A isso se soma a desigualdade salarial: as mulheres ganham menos que os homens, mesmo exercendo funções similares. Também são elas as maiores vítimas de assédio no ambiente de trabalho, convivendo diariamente com a pressão de se adequarem a padrões estéticos e comportamentais idealizados e inatingíveis.
“Elas fazem mais, ganham menos e ainda são cobradas por tudo”, resume a delegada Dra. Gabriela Garrido. “E mesmo assim, sob toda essa pressão, são elas que sustentam 49,1% dos lares brasileiros.”
Essa combinação de fatores torna as mulheres mais vulneráveis ao esgotamento mental, à depressão, à ansiedade e a outras formas de adoecimento psíquico. Para a delegada Dra. Gabriela Garrido, não se trata de um problema individual, mas de uma crise coletiva com efeitos diretos sobre a sociedade e a economia.
“Se essas mulheres adoecem, suas famílias ficam vulneráveis. A economia do país fica comprometida. Então, é uma crise que atinge a todos”, alerta a delegada Dra. Gabriela Garrido.
A saída para esse cenário, segundo ela, passa pela transformação estrutural das relações de gênero. Isso inclui a implementação de políticas públicas que valorizem o cuidado, promovam ambientes de trabalho mais justos, combatam o assédio e incentivem a equidade. Também é fundamental investir na formação e ascensão de mulheres em posições de liderança, reconhecendo o protagonismo que já exercem em seus lares e comunidades.
“Cuidar da saúde mental das mulheres é também cuidar do futuro do nosso país. Se as mulheres são responsáveis por quase metade das famílias no Brasil, quando elas avançam, todos avançam”, finaliza a delegada Dra. Gabriela Garrido.
A mensagem é clara: a saúde mental das mulheres não pode mais ser tratada como uma pauta secundária. É uma questão de justiça social, de sustentabilidade econômica e de compromisso com um futuro mais igualitário para todos.