Uma pesquisa inédita realizada em todo o Brasil lança luz sobre uma prática violenta e silenciosa que atinge milhares de pessoas: o stealthing. O termo, derivado da palavra inglesa stealth, que significa ação sorrateira ou furtiva, descreve a retirada do preservativo sem o consentimento do parceiro durante a relação sexual, forçando uma exposição involuntária e não consensual.
O levantamento ouviu 2.876 vítimas, sendo 2.275 mulheres e 601 homens, apontando que, embora a maior parte dos casos atinge mulheres, a prática afeta também pessoas de outros gêneros. O dado mais alarmante é que todos os relatos indicam homens como agressores, sendo que, em 10% das ocorrências, o violador era o próprio marido da vítima.
A pesquisa também revelou um padrão preocupante: em grande parte das situações, o agressor mantinha uma relação estável com a vítima, como namorados, companheiros ou cônjuges. Esse fator torna ainda mais difícil o reconhecimento da violência, já que muitas vítimas sentem-se culpadas ou temem não serem levadas a sério.
É uma violência sexual camuflada, marcada pelo silêncio e pela falta de informação sobre o que caracteriza o abuso. De acordo com os dados, um número expressivo das vítimas relutou em denunciar, seja por vergonha, medo de represálias ou pela crença de que o sistema de justiça não reconheceria o ato como violência legítima.
Atualmente, o stealthing ainda não é tipificado de forma específica no Código Penal brasileiro, embora juristas e movimentos feministas defendem a necessidade de um marco legal que aborda
a prática como crime. Em países como Alemanha, Suíça e Reino Unido, tribunais já estabeleceram precedentes condenando agressores por essa conduta.
Organizações de direitos humanos e entidades que atuam no combate à violência sexual defendem que o avanço da legislação e a ampliação dos debates públicos são essenciais para o enfrentamento do stealthing. A pesquisa, que deve ser publicada integralmente nas próximas semanas, também sugere a necessidade de campanhas de conscientização sobre consentimento e práticas sexuais seguras. Para especialistas, reconhecer e debater o stealthing é fundamental para proteger vítimas e responsabilizar os agressores.
Saiba mais:
- Onde buscar apoio: delegacias especializadas, serviços de saúde e organizações de defesa dos direitos humanos.
- Como denunciar: Disque 180 Central de Atendimento à Mulher.
- Informações sobre consentimento e saúde sexual: Ministério da Saúde e ONGs especializadas.