Vicente Serejo
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Não há como esquecer que durante mais de trinta anos fui professor de técnica de redação jornalística no curso de jornalismo e comunicação Social da UFRN. Há de ter sido, para os desafetos, por condescendência da banca examinadora do concurso de acesso. Que tenha sido, se conforta a quem suspeita de tão feio pecado. Mas, a questão está acima das afeições e desafeições. O texto da notícia tem normas. A língua é comum a todos os estilos, mas cada linguagem tem seu código próprio.
Uma das fixações, diante dos alunos, quase uma teimosia, era exigir a atenção para aquilo que os velhos manuais chamavam de o uso com propriedade correta dos termos na construção do texto jornalístico. Costumava brincar dizendo que na linguagem jornalística casamento é casamento. Matrimônio é expressão própria da religiosidade e conjunção carnal se aplica, na exata propriedade, e tão somente, a laudos periciais, aqueles emitidos pelos peritos técnicos e próprios da medicina legal.
Era sempre instigante provocar o espanto das novas turmas, logo nas primeiras aulas, quando espetava os olhos dos alunos, e avisava: nesta disciplina é proibido o uso de ‘esposa’ e ‘esposo’, por absoluta falta de propriedade. É tintura social cafona. E acrescentava: consorte é erro imperdoável, e seu uso é crime. Aqui, – e completava olhando nos olhos deles – só se é marido e mulher, o que não é novidade. É assim que a justiça e a religião proclamam. Esposo e esposa são pecados por preciosismo.
O velho nariz de cera é para justificar o espanto com que ouvi algumas vezes nas transmissões ao vivo, do Vaticano, na eleição do Papa. Não de todos. De alguns, e quando se referiam ao sentido inviolável dos cardeais na Capela Sistina. Diziam: “Os cardeais estão trancados na Capela Sistina”. Ninguém tranca cardeal. O Colégio Cardinalício, para usar a expressão canônica, fica em reclusão e não trancado, como se fossem prisioneiros. É um grande rito da tradição secular, não uma imposição.
Caídos nas mãos de mestres, doutores e pós-doutores que nunca puseram o pé numa redação ou submeteram seus textos a um bom copidesque, é agora comum que os bacharéis em jornalismo ou comunicação cheguem às redações dos jornais, rádios e tevês, noticiando ‘parecer’ de juízes, quando esses sentenciam abrigando ou não as denúncias do Ministério Público. De vez em quando, o laudo do médico é chamado de relatório. A linguagem jornalística vai se esgarçando o rigor pouco a pouco.
A sensação é que os cursos na área da comunicação perderam de vista que são, antes de tudo, supridores do mercado, pois prioritariamente formadores de profissionais. O principal pressuposto da instituição universitária é promover o ensino geral das profissões e prover o mercado. Seus doutores e pós-doutores são professores e pesquisadores, mas em nível mais elevado. O curso de jornalismo tem o dever de formar bons jornalistas. A menos que algum gênio vadio tenha revogado essa missão.
PALCO
PAUTA – O ex-senador José Agripino ainda não tirou da pauta de 2026 a candidatura do prefeito de Mossoró ao governo. Para ele, Alysson Bezerra é o único nome que simboliza uma renovação.
FOGO – Já queima em fogo brando a fervura que defende uma candidatura da governadora Fátima Bezerra ao Senado. A vitória terá a mesma hecatombe de uma derrota. Pode deixá-la sem mandato.
LUTA – De uma fonte petista, mais ajuizada: “Carlos Eduardo Xavier, nosso Cadu, tem até final do ano para demonstrar na prática que não é um candidato provisório. E se até lá já não for muito tarde”.
VELHO – Duro o editorial da Folha de S. Paulo sobre a situação do Brasil diante dos seus maiores sonhos: é um país que envelhece sem ser uma nação rica e sem educar o seu povo. Há meio milênio.
SERROTE – Desobediência é o tema central da revista ‘Serrote’, do Instituto Moreira Sales, na sua quadragésima nova edição. E é hoje a mais moderna e arrojada publicação de ensaios deste Brasil.
CENÁRIO – Convenhamos, em nome do bom gosto: esses balõezinhos coloridos que tremulam nos canteiros da cidade é o que temos de mais prosaico. São João a essa altura anda morto de vergonha.
POESIA – Da grande Cecília Meireles, olhando seu próprio retrato “Eu não tinha este rosto de hoje, / Assim calmo, assim triste, assim magro, / Nem estes /olhos tão vazios, / Nem o lábio amargo”.
MEDO – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, olhando os tolos que pululam no chão encardido do beco: “O tolo vaidoso é como um bem gato felpudo: é um bom animal de estimação”.
CAMARIM
PADRÃO – A eleição do escritor José Roberto de Castro Neves é, mais uma vez, a demonstração de que a entidade, sob a batuta do jornalista Merval Pereira, mantém o compromisso com o padrão de preferir nomes comprometidos com a vida intelectual e enriquecedora da instituição e sua história.
ANTES – Na eleição anterior a Academia elegeu o poeta e tradutor Paulo Henriques Britto, não só um dos maiores nomes da poesia, como um dos mais importantes tradutores. Um nome que consagra e valoriza a instituição. São nomes assim que servem à história da ABL e não se servem de sua história.
NOME – Com a morte do linguista Evanildo Bechara, o nome cotado é Ana Maria Gonçalves. Na eleição dos 100 livros do século, os 100 jurados da Folha elegeram seu livro ‘Um Defeito de Cor’ – foi o mais votado. Em segundo lugar, ‘Torto Arado’, de Itamar Vieira Júnior, Todavia, com 35 votos.
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