Depois de se formar engenheiro no interior de São Paulo, o goiano Brubeyk Garcia Nascimento, de 38 anos, voltou a Anápolis para ajudar a mãe na pequena fábrica de biscoitos de polvilho da família. Conseguiu expandir o negócio para outros estados, inclusive o Pará, onde o engenheiro abriu um centro de distribuição da Biscoito Estrella e um atacado de alimentos. Foi quando percebeu que parte de seus clientes pagava as compras com dinheiro do ouro extraído em garimpos da região.
Nascimento se interessou pelo ouro da Amazônia – e quase da noite para o dia tornou-se um milionário. Entre 2019 e 2022, comprou e vendeu 4,6 toneladas do minério, que lhe rendeu um faturamento bruto de quase 1,5 bilhão de reais. É o equivalente a 6,7% de toda a reserva de ouro do Banco Central do Brasil.
A maior parte do minério foi exportada para a Itália, de onde se espalhou pelo mundo. Para a Polícia Federal, é ouro ilícito, contrabandeado da Venezuela ou extraído de garimpos que arrasaram parte de terras indígenas do Pará e Roraima. De acordo com as investigações policiais, o ouro foi “lavado” por meio de um esquema envolvendo fraude nas autorizações de lavra em nome de cooperativas de garimpeiros no Sul do Pará. Nas contas da PF, Nascimento está agora entre os maiores contrabandistas de ouro da história recente do Brasil.
Foi no Pará que Nascimento conheceu quem o introduziu no próspero mundo do contrabando de ouro: o sergipano Fábio Monteiro da Silva, dono de um grande ponto de garimpo no leito do Rio Uraricoera, a apenas 25 km da comunidade yanomami Waikás, uma das mais castigadas pela predação da mineração ilegal. O esquema da dupla, segundo a polícia, passava pela Cooperativa de Garimpeiros e Mineradores de Ourilândia e Região (Cooperouri), da qual Silva era um dos diretores.
Conforme as investigações da PF, a Cooperouri é uma das maiores fornecedoras de ouro para Nascimento. A relação comercial era tão próxima que, nos e-mails do empresário goiano, a polícia encontrou indícios de que ele próprio emitia as notas fiscais da cooperativa.
Outro importante fornecedor de ouro para Nascimento era a Mineração Serra Pelada, do pastor evangélico Harley Sandoval, que entre julho de 2020 e dezembro de 2022, vendeu 294 milhões de reais em ouro para a empresa do goiano. “Naqueles anos, eu trabalhei quase que 100% com ele [Nascimento]. Falávamos todos os dias”, disse o pastor à piauí.
Nascimento admitiu ter comprado ouro de procedência ilegal, mas nega que tenha tido má-fé. Ele compara a compra do ouro à aquisição de um automóvel. “Ninguém pergunta se o carro é fabricado aqui ou no exterior. Porque vem a nota fiscal, tudo correto, então a origem pouco importa. Eu comprei esse ouro de boa-fé, acreditando que a procedência era lícita”, diz.
No fim de 2019, Nascimento encontrou outro parceiro comercial importante no exterior. Durante um jantar em Nova York, acertou a venda de 35 kg de ouro para a Doromet, empresa dos americanos Frank Giannuzzi e Steven Bellino. Da carga avaliada em 6,8 milhões de reais, o goiano teria um lucro de 3%, ou seja, 300 mil reais.
Na noite de 24 de janeiro, no Aeroporto de Manaus, quando os dois americanos se preparavam para embarcar para Nova York com os 35 kg de ouro acondicionados em uma mala rosa, policiais federais apreenderam a carga e detiveram Nascimento. Ele não sabia, mas vinha sendo investigado pela Polícia Federal.
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