Atingindo 83% do território do Rio Grande do Norte, a seca já alcança 70 municípios que estão dependentes do abastecimento por carros-pipa, mobilizando 210 veículos para atender mais de 80 mil pessoas, segundo dados da Defesa Civil Estadual. Os 69 reservatórios monitorados pelo Instituto de Gestão das Águas (Igarn) acumulam apenas 44% da capacidade total, índice considerado preocupante em meio à baixa recarga registrada em 2025. Os números refletem o agravamento da estiagem que compromete a produção agrícola e ameaça o abastecimento humano em regiões vulneráveis.

Em municípios como Luís Gomes, Ouro Branco, Serra do Mel e Água Nova, a situação é classificada como colapso parcial, obrigando a adoção de rodízios e a dependência crescente de alternativas emergenciais. A previsão da Emparn para os próximos meses é de chuvas abaixo da média, associadas a temperaturas acima de 28 °C, o que tende a aumentar a evaporação e reduzir ainda mais os volumes armazenados. O cenário levou o Governo do Estado a adotar medidas emergenciais, entre elas a restrição do uso da água no Canal do Pataxó, no Vale do Açu.

Segundo Paulo Varella, secretário estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), a estratégia é combinar medidas estruturantes e emergenciais. “Mais de 60 poços já foram perfurados e esperamos chegar à ordem de 400 poços até março de 2026. Também há programas de dessalinização da água de poços salobros, por meio de convênio com o Ministério do Desenvolvimento de Integração Regional (MIDR), no valor de R$ 32 milhões. Estamos, portanto, também trazendo a tecnologia a serviço da gestão dos recursos hídricos, aumentando assim a quantidade de água”, afirma.

De acordo com a Defesa Civil Estadual, a Operação Carro-pipa está contemplando uma população de 80.470 pessoas espalhadas por 70 municípios. Entre as cidades mais afetadas, estão Campo Redondo, com 4.778 atendidos; Nova Cruz, com 4.403; São Miguel, com 4.399; e Santa Cruz, com 3.938 moradores abastecidos. O atendimento, coordenado pelo Exército Brasileiro. Contempla as áreas rurais.

O diretor técnico do Igarn, Auricélio Costa, alerta para a situação de reservatórios em condição crítica. “Atualmente, alguns reservatórios do Rio Grande do Norte inspiram maior preocupação por estarem praticamente secos ou com volumes muito reduzidos. Entre eles, destacam-se Passagem das Traíras, Esquicho, Carnaúba, Japi II, Jesus Maria José, Tourão e Brejo. Além desses, também merece atenção o reservatório Luís Gomes, que chegou a secar, tendo o abastecimento do município normalizado graças ao aporte da barragem de Pau dos Ferros”, explica.

As ações em curso incluem a recuperação de 28 barragens, com investimento de R$ 18 milhões com recursos próprios do Estado, sendo 15 em execução e 10 já concluídas. Paralelamente, o governo acelera obras de adutoras como o Projeto Seridó, previsto para março de 2026, e o início da Adutora do Agreste, cuja ordem de serviço será emitida em outubro. As águas da transposição do Rio São Francisco já reforçam a bacia do Piancó-Piranhas-Açu e devem alcançar o Ramal do Apodi até meados de 2026.

Paulo Varella avalia que a convivência com a seca deve ser permanente e não apenas reativa em períodos de crise. “A gestão de recursos hídricos deve ser feita permanentemente, quando há seca e quando não há. Não é surpresa, para quem faz gestão no semiárido, períodos de estiagem, eles vêm e vão no nosso cotidiano, de forma cíclica”, afirmou. Para o secretário, antecipar ações e acelerar estruturas é a chave para evitar colapsos em anos consecutivos de baixa pluviosidade.

Diante dos números preocupantes, Auricélio Costa ressalta que o agravamento da estiagem pode exigir medidas ainda mais rigorosas, para além do monitoramento contínuo dos volumes dos reservatórios, avaliações técnicas periódicas e a adoção de medidas preventivas. “Entre essas medidas, não estão descartadas novas restrições de uso ou até mesmo decretos mais amplos de emergência, sempre que necessário para garantir que a água disponível seja utilizada de forma equilibrada e sustentável”, afirma.

De acordo com o último levantamento dos dados volumétricos de reservatórios do RN, publicado pelo Igarn, 23 reservatórios do RN estão abaixo de 20% da capacidade, agravando o desafio de atravessar os próximos meses críticos e garantir o abastecimento humano. As situações mais críticas estão em Itans (Caicó) com 0,12%, Passagem das Traíras (São José do Seridó) com 0,03%, Jesus Maria José (Tenente Ananias) com 1,14%, e Lulu Pinto (Luís Gomes) com 1,78%.



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